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Endurance tratado a sério!
Intercontinental Le Mans Cup, o prelúdio do WEC

O Mundial de Endurance está em sua nona temporada. Mas o “Mundial” de endurance começou bem antes. Denominado World Sportscar Championship ou WSC, também regulamentado pela FIA, durou de 1953 até 1992, tendo sido extinto em sua melhor época, o Grupo C.  

Também conhecido como Mundial de Sport-Protótipos ou Mundial de Marcas, a série era repleta de fabricantes que disputavam provas de 1000km (algo em torno de 6 horas), em circuitos tradicionais como Le Mans, Daytona, Nurburgring, Carrera Panamericana, Targa Florio e Fuji. Apenas para citar algumas que até hoje fazem parte ou do WEC, ou da IMSA. 

 Em 1992 os protótipos chegaram a velocidades absurdas e a segurança preocupa. Para frear um pouco o ímpeto das montadoras, a FIA instituiu o Grupo C, uma nova categoria para protótipos esportivos fechados que limitavam o consumo de combustível. De acordo com os dirigentes, o plano era perfeito. Para poder economizar combustível, seria necessário limitar a potência dos motores.

A princípio vários construtores que tinham abandonado o endurance, voltaram. Várias equipes de clientes se sentiram encorajadas a voltar ao campeonato já que os custos e o suporte de fábrica acabaram se tornando acessíveis. Muitos fabricantes optaram por motores aspirados, já que grande.

Popularidade do Grupo C fez a FIA alterar o regulamento para privilegiar a Fórmula 1

Como o rally estava provocando muitos acidentes e mortes, a adesão de carros do grupo B foi permitida, mas pequena, deixando o campeonato povoado somente por protótipos. O sucesso foi tremendo. Vários construtores resolveram participar com equipes de fábrica. Porsche, Jaguar, Mercedes-Benz, Nissan, Toyota, Mazda e Aston Martin. 

Com tantas marcas disputando, é evidente que os custos foram subindo. A FIA, vendo seu plano de limitar o orçamento, criou a classe C2 (atual LMP2) para pequenos fabricantes e equipes de clientes. Se hoje a fornecedora de motores para a classe LMP2 é exclusivamente a Gibson, a maioria das equipes daquela época optaram por propulsores BMW M1 e Cosworth DFL. Mesmo com tantos fabricantes com suas equipes de fábrica, a Porsche era quem dominava o campeonato com os modelos 956 e 962. 

O fim do Grupo C e a politicagem da FIA

A adesão de vários fabricantes e corridas com milhares de espectadores, começaram a ameaçar a sacrossanta F1, deixando os chefões da FIA preocupados. Em 1991, o vice-presidente da FIA, um tal de Bernie Ecclestone, fez lobby e os regulamentos do Grupo C mudaram. 

Protótipos de 750 kg aspirados tiveram que utilizar motores de 3500 cc. Em outras palavras, os carros teriam que ter motores utilizados na F1, que deveriam durar corridas de até 24 horas. O custo elevado foi o tiro de misericórdia para o Grupo C. Embora a potência fosse menor (algo em torno de 650 bhp em comparação com cerca de 750 bhp para cima), os novos carros eram os carros esportivos mais rápidos na época.  

Os custos altos atrairam poucos fabricantes e equipes de clientes para 1991. Tentando parecer boazinha, a FIA permitiu que modelos antigos pudessem competir na classe C2, mas com lastro e redução de potência, poucos se interessaram. O campeonato também passou a se chamar FIA Sportscar World Championship. Além da nova nomenclatura, para 1992 a regra de motores de 3,5 litros começou a valer e os antigos protótipos não eram mais elegíveis. O ano de 1993 marcou o fim do campeonato. Le Mans chegou a ter 46 inscritos, um “recorde” depois de tanta sangria. 

 Em 1994, o título World Sportscar retornou, desta vez pelas mãos da IMSA, com o nome de IMSA GT a nova série duraria até 1998. 

 O Intercontinental Le Mans Cup

Audi e Peugeot eram rivais ferrenhos no ILMC. (Foto: Divulgação)

Com a criação da American Le Mans Series em 1999, do Le Mans Series em 2004, o endurance voltava a ter relevância. Cadillac, Panoz e Audi, Porsche e Peugeot, foram equipes que apostaram em protótipos. Ferrari, Corvette, Porsche, BMW e Spyker, optaram pela classe GT, seja com equipes de fábrica ou de clientes.

Vendo o interesse de montadoras nos campeonatos regionais e em Le Mans, o Automobile Club de l’Ouest (ACO) criou em 2009 o Asian Le Mans Series. Mesmo com uma pequena adesão o negócio vingou. Era hora do Mundial de Endurance ressurgir.

Em 2010 surgiu o Intercontinental Le Mans Cup. Com apenas três provas: 1000 km de Silverstone, Petit Le Mans e os 1000 km de Zhuhai. O campeonato era disputado nas mesmas corridas da ALMS, LMS e Asian LMS. 

Tanto protótipos esportivos quanto GTs eram elegíveis para competir no ILMC: as classes LMP1 e GTE, cada uma, tinham um campeonato de construtores, enquanto todas as classes de ACO davam títulos para equipes, desde que houvesse pelo menos quatro inscrições. Em 2010 a classe GT1 foi elegível

A Peugeot dominou nos dois anos que o ILMC existiu, enquanto a Ferrari e Porsche dividiram as vitórias na classe GTE. O iminente sucesso sem qualquer apoio da FIA, fez a entidade crescer os olhos para o endurance novamente. Em 2012 ACO e FIA anunciaram o World Endurance Championship ou simplesmente FIAWEC. Uma desconfiança pairou sobre a novidade, seria mais um golpe da FIA para matar novamente as corridas de longa duração? Mesmo com seus altos e baixos, o WEC tem atraído novos fabricantes com regulamentos mais permissivos e voltados para a sustentabilidade. Se teremos um novo golpe por parte da FIA? Só o tempo dirá.