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Endurance tratado a sério!
Pipo Derani: “A grande mídia no Brasil sempre valorizou mais a Fórmula 1”

O brasileiro Pipo Derani está longe de ser uma promessa. Aos 30 anos, o paulista já tem o nome gravado em uma categoria até pouco tempo, desconhecida de um público, o endurance

Campeão das 24 Horas de Daytona, tetracampeão das 12 Horas de Sebring e vencedor de Petit Le Mans, Derani se prepara para disputar a edição do centenário das 24 Horas de Le Mans. Ele estará no Cadillac #311 da Action Express Racing ao lado de Alexander Sims e Jack Aitken. 

Além disso, Pipo está na vice-liderança no IMSA Weathertech SportsCar Championship com 1282 pontos ao lado do companheiro da Cadillac, Alexander Sims. A série é liderada pelos pilotos da Porsche Nick Tandy, e Mathieu Jaminet com 1307 pontos. 

Os detalhes com Pipo Derani

Contudo, em entrevista exclusiva para o jornalista Fernando Rhenius do portal Bongasat Endurance, Pipo fala dos desafios do endurance, BoP na IMSA e a popularidade nos Estados Unidos. Confira. 

A entrevista com Pipo Derani foi realizada antes da etapa de Laguna Seca da IMSA.

1 – Após a etapa de Long Beach, você e Alexandre Sims estão em segundo na classe GTP, com 954 pontos, contra 955 de Nick Tandy e Mathieu Jaminet. Como buscar a liderança do campeonato com um BoP muitas vezes desfavorável? Ele mais ajuda ou atrapalha?

“Seguimos em segundo na categoria, mas em Laguna Seca estivemos bem próximos da vitória e vimos o triunfo do outro carro da Cadillac. Ainda sim, em algumas pistas, o BoP pode favorecer um carro em específico, mas no geral acredito que a categoria tem feito um trabalho muito bom no sentido de equalizar a disputa”.

 2 – Em 2022, a Acura fez dobradinha em Laguna Seca, com você conquistando um terceiro lugar, para este ano, com a Porsche motivada após Long Beach, o desafio será maior pela quantidade de carros na classe? Ou a Cadillac, está em um melhor momento?

“Como disse acima, a Cadillac conseguiu vencer e nós também estivemos na briga pela vitória. A Porsche fez a pole com um de seus carros e terminou em segundo com o outro carro da equipe. Temos um carro totalmente novo este ano, então, isso tem mudado um pouco a dominância de algumas equipes em determinadas pistas, como acontecia no ano passado, deixando a disputa mais aberta”.

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 3 – Muitos enaltecem a IMSA pela competitividade, enquanto criticam o Mundial de Endurance pela falta dela, mesmo tendo boas disputas. No seu entendimento isso realmente existe? Ou o que o WEC faria para  passar uma impressão maior de emoção para o expectador?

“Vejo as duas categorias muito competitivas. Talvez o fato do IMSA ter mais classes em disputa em suas corridas faça a emoção ser maior para os fãs, com mais retardatários na pista e mais ultrapassagens neste sentido”.

A valorização do piloto nos EUA

4 – A IMSA retirou do WeatherTech a classe LMP3 para 2024. Agora você terá três classes para administrar os retardatários (LMP2, GTD-Pro e GTD). Qual é a maior dificuldade neste momento. Um carro lento ou um piloto amador (bronze) que também está lutando por posições?

“Um carro lento, normalmente, você consegue “negociar” a ultrapassagem mais rapidamente. Com pilotos menos experientes, os riscos podem ser maiores”.

 5 – Muitos pilotos hoje olham os EUA como um porto seguro quando buscam uma carreira internacional. Seja a Indy, GTs ou protótipos. Aquele sonho de competir na Europa ainda é viável ou o mercado norte-americano tem se mostrado mais fácil?

“Não acredito que exista um “porto seguro” no automobilismo sem muito trabalho e resultados. Em qualquer categoria do mundo vai existir uma cobrança neste sentido para que você consiga correr pelas melhores equipes/montadoras. Eu tive mais oportunidades concretas no mercado Norte-Americano depois de anos na Europa, mas tanto América como Europa e também Japão têm mercados interessantes para pilotos profissionais”.

Reconhecimento

6 – Você já venceu as 12 Horas de Sebring quatro vezes. Venceu as 24 Horas de Daytona, é conhecido como um piloto agressivo, que decide uma corrida. A imprensa brasileira acabou não dando o devido destaque a esse histórico vencedor. Nos EUA também é assim?  O público e a imprensa valorizam o piloto de outro país?

“A grande mídia no Brasil sempre valorizou mais a Fórmula 1, Fórmula Indy, até mesmo pelo histórico do país nessas categorias. Mas na mídia especializada o endurance tem ganhado destaque e sinto que esses jornalistas e os fãs das corridas de longa duração valorizam as conquistas que tive aqui, mesmo acompanhando aí de longe no Brasil”. 

” Também sempre me senti muito acolhido pelos fãs e a imprensa nos EUA, mesmo sendo de outro país. Assim,  o fato de eles estarem mais próximos nas corridas, poderem acompanhar no autódromo também acaba favorecendo esse convívio”. 

Pipo Derani e a sinergia com o endurance

Pipo Derani nas ruas de Long Beach. (Foto: Divulgação)

7 – A Action Express e a Chip Ganassi recebem o mesmo tratamento por parte da Cadillac? Existe uma troca de informações entre as equipes durante testes e o desenvolvimento ou mesmo tendo o mesmo protótipo é cada uma por si?

“Sim, temos o mesmo tipo de tratamento e uma equipe da Cadillac que trabalha com ambos os times, visando uma evolução dos carros da marca como um todo”. 

 8 – Você já testou um carro da Indy e já demonstrou interesse em competir nas 500 Milhas de Indianápolis. Existem conversas neste sentido, ou o foco agora é o endurance?

“No momento, o foco é o endurance. Desse modo,  estou muito feliz por ter me tornado piloto oficial de fábrica de uma grande montadora e estar no grid das 24 Horas de Le Mans mais uma vez e nesta prova que será histórica, marcando os 100 anos da corrida. Aliás, também quero lutar até o final pelo meu bicampeonato no IMSA este ano”.

09 – O que você diria para aquele piloto que almeja competir com protótipos. É apenas um robusto patrocínio ou a preparação é diferente do que em uma categoria de fórmula?

“Se o sonho é correr de endurance, diria para ele trilhar seu caminho neste sentido. Vislumbrando as melhores categorias para cada estágio da sua carreira, para ganhar experiência e tornar seu nome uma referência. Mas cada um tem sua trajetória. Além disso, eu segui meu sonho nos fórmulas por muitos anos e, quando tive a chance de correr uma corrida de ELMS, agarrei aquela oportunidade e comecei a mostrar o meu potencial neste tipo de carro. Atualmente, essa “mudança de chave” me levou às conquistas que felizmente tive até aqui”.