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Endurance tratado a sério!
A migração dos protótipos LMP2 do WEC para o mundo

A escola nos ensinou que a migração sazonal se caracteriza por estar ligada às estações do ano. É uma migração temporária, onde o migrante sai de um determinado local, em determinado período do ano, e posteriormente volta, em outro período do ano. É conhecida também por transumância.

Porém, no endurance, as coisas muitas vezes não voltam. Isso pode ser bom, péssimo ou ótimo. No caso do WEC e em todo sistema criado pelo Automobile Club de l’Ouest (ACO), o torcedor, fabricantes e equipes ficam com os dois pés para trás. A desconfiança sempre rondou de quem aperta a mão da dona FIA. Quer um exemplo? O fim do Grupo C, episódio que quase matou o endurance e que eu explico aqui.

Passados os sustos, o último foi o diesel gate (não foi culpa da FIA, mas ela adorou o circo pegar fogo, os traumas sempre rondam as provas de longa duração. Principalmente quando se envolve protótipos.

Então, para 2024 a classe LMP2 não estará no WEC, ficará confinada a 15 vagas nas 24 Horas de Le Mans. Um bom número? Talvez, o que salva é a enxurrada de Hypercars e a forçação de barra em cima dos LMGT3.

Não que seja ruim ter novas marcas em uma classe GT que sempre foi para povoar o grid. Lembra em 2009 quando a ALMS lotou o grid com Porsches GT3 Cup na classe GTC? Pois bem. A história se repete. Não querendo polemizar, mas como a FIA nunca gostou de um LMP…

A debandada da manada

Grid do ELMS 2023. Em 2024 teremos mais protótipos. (Foto: ELMS)

A dúvida que ficou foi, onde esse mar de Orecas 07 correrá? Muitos taxaram que haveria um grande mercado de protótipos usados e que um enxame de GT3s ocuparia os grids do ELMS, IMSA e Asian LMS. Não foi bem assim.

Na segunda-feira, 04, a organização do European Le Mans Series divulgou a lista de inscritos para a temporada 2024 da competição. Serão 43 carros em quatro classes (LMP2, LMP2 Pro/Am LMP3 e GT3. Nada muito diferente se comparado a primeira lista deste ano, que teve 42.

A principal diferença é a quantidade de carros GT e LMP2. Serão 22 para 2024 e 18 neste ano. O maior déficit é na classe LMP3, que, de 12 em 2023, encolheu para 10 para o próximo ano.

Agora o X da coisa está na classe GT. Este ano, último ano da classe GTE, foram 12 carros, contra 11 GT3 no próximo ano. Além disso, é a primeira vez que três equipes (todas com protótipos), estão em uma lista de espera.

Essa diferença de 1 carro entre as listas pode parecer banal, uma equipe desistiu, mas é um pouco mais do que isso. A quantidade recorde de protótipos LMP2 tem uma explicação. O regulamento da classe LMP2 irá até 2026, tempo de sobra para um gentleman driver com tempo e dinheiro gastar com uma máquina ainda atual. E o melhor. Podendo pagar para um piloto profissional estar na sua equipe e com chances de ganhar na classe.

E mesmo com muitas equipes com recursos e pilotos para competir no WEC, mas com a alta demanda de protótipos Hypercar e a badalação em cima de carros GT3 muitas equipes não querem custos extras com logística e viagens entre continentes.

IMSA recebe todos de braços abertos 

No outro lado do Atlântico, a IMSA também teve um aumento significativo nas inscrições de protótipos LMP2. Na lista de testes de pré-temporada das 24 Horas de Daytona, 12 protótipos LMP2 estão confirmados. E não é só isso, pilotos de renome como Felipe Massa, Paul di Resta, Luis Perez Companc, Nicklas Nielsen, Paul-Loup Chatin, são alguns dos bons nomes que estarão no grid.

Assim, não estarão na IMSA para apenas para encher o grid, mas o prognóstico é promissor. Carros iguais, o talento prevalecerá. Como sempre a IMSA dando aquela ajuda nos desmandos e ideias criativas da FIA.

Até a temporada 2023/24 do Asian Le Mans Series houve um incremento de participantes. Em 2022 tivemos 37 carros. Este ano 39

E os maravilhosos LMGT3 do WEC?

Primeiro esboço do que seria um Hyupercar. Um GT3 anabolizado. (Foto: ACO)

Toda essa manobra de exclusão dos LMP2 do WEC, pode ter como explicação algo digamos plausível. Assim, o aumento de fabricantes na classe Hypercar, o que realmente aconteceu. Mas em se tratando de FIA nunca é o que parece.

Como a ideia lá nos primórdios dos Hypercars terem a aparência de um GT3 anabolizado, todos os carros acabaram parecendo protótipos, 1 x 0 para o ACO. Como é sabido, não é de hoje que a categoria máxima tenta excluir da mente humana os protótipos. Mas quem tem o dinheiro não pensa assim.

Voltando a lista de inscritos do ELMS deste ano, tivemos 12 carros. (Ferrari, Porsche e Aston Martin). Para o próximo ano, serão 11 carros (Ferrari, Aston Martin, Porsche e um Lamborghini). Surpresos? Nem tanto. Audi e Mercedes-Benz não foram aceitas por conta de não terem Hypercars.

Já no WEC teremos Ferrari, Porsche, Aston Martin, BMW, McLaren, Corvette, Lexus, Ford Mustang. Um plantel de respeito. Qualquer fã ou promotor trocaria 100 LMP2 por essa lista de carros divertidos e empolgantes. Não necessariamente a ELMS que priorizou os protótipos e manteve poucos fabricantes.

Por fim, querem diversidade? Procurem o Le Mans Cup. Mesmo com uma grande quantidade de protótipos no WEC, se o LMP2 tivesse espaço e o ACO fosse menos passivo, a história seria outra. E viva a migração.