Quando um ex-F1 esquece que foi um ex-F1
Títulos sensacionalistas e muitas vezes sem sentido com a matéria em si, são cada vez mais usados para conseguir curitas e visualizações em uma internet aonde blogs e sites “especializados” surgem da noite para o dia.
Assim grandes portais, muitas vezes engessados apenas com pautas aonde o futebol é o principal destaque precisam muitas vezes suar a camisa para destacar uma notícia tão ou melhor do que o corte de cabelo do Neymar por exemplo.
Por outro lado, blogs e sites independentes acabam abocanhando esta fatia de leitores que não tem notícias em grandes portais. Matérias sobre Endurance, NASCAR ou qualquer categoria menos relevante (para os editores) são ricamente exploradas. Muitas vezes que faz isso mais por uma necessidade, já que não existe praticamente informações em português
Em busca de curtidas e uma certa notoriedade a muito tempo, com um enfase maior aqui no Brasil o termo “ex-F1” vem povoando as manchetes destes tidos sites especializados e é claro dos grandes portais.
Não importa se o piloto competiu na década de 20 na F1, o título da matéria sempre será “ex-F1 foi tetra campeão no Mundial de carrinho a pilha”. Esta falta de interesse em buscar informações sobre a nova categoria em que o cara compete acaba deixando o texto e a qualidade do profissional questionável.
O exemplo mais recente foi com o australiano Mark Webber, que deixou a F1, muito pelos descontentamentos com Vettel e a predileção da RBR pelo jovem talento. Sim ele resolveu mudar, não se aposentou como era dado como certo por jornalistas. Recomeçou sua carreira no endurance e foi campeão pela Porsche. Não é em uma categoria regional, muito menos por uma equipe principiante.
Foi campeã pela Porsche. Mas ao contrário da F1 que ela seus pilotos a um patamar muitas vezes utópico, Webber teve a ajuda de Timo Bernhard e Brendon Harley, bons pilotos. Ao contrário da F1, o endurance cultua o carro, talvez seja este o problema de alguns jornalistas ou blogueiros em aceitar que apenas um piloto mereça o título de campeão.
“Estou muito feliz por ter a força com uma marca tão incrível que em 18 meses conquistou o título de pilotos e construtores em cima de equipes bem mais organizadas e com tempo de estrada”, disse Webber.
“A Audi está a muito tempo nesta competição. Eles tiveram que lidar com a Peugeot a pouco tempo, depois com a Toyota e agora com a gente. Para mim, é um momento especial ganhar um título mundial com a Porsche. Essa é a coisa mais importante para mim neste momento.”
Webber não é hipócrita. Por conta da sua carreira na F1, como um piloto técnico foi contratado pela Porsche, mas em todas as entrevistas que dá não fala do “tempo em que viveu na F1”.
Ele pensa para frente, e é assim que a vida deve ser. Pena que quem deveria passar a informação correta fez tudo errado. Não foi nenhum, nem dois, sites que deram em suas machetes que Webber venceu sozinho o WEC, desprezando ou desconhecendo que fez isso com mais dois pilotos.
E se o Porsche vencedor fosse o #18? E se na equipe desse Porsche tivesse um mecânico que trabalhou em uma equipe de F1? A machete seria. “Ex-mecânico que trabalhou em um carro de F1 nos anos 90 é determinante para título da Porsche no WEC.”
Webber competiu por 11 anos na F1, por equipes pequenas e de ponta, venceu corridas mas nunca ganhou nada. Talvez este seja o problema dos entendidos da F1, aceitar que um ex-piloto teve sucesso em outra categoria que vem desbancando o sacrossanto criando por Bernie Ecclestone.
“Para ser campeão do mundo em carros esportivos, a este nível, OK, não há 26 carros no mesmo ritmo, mas há cinco ou seis carros em ritmo superior”, disse ele. “Os pilotos neste campeonato são muito, muito fortes. Eles são especialistas neste campeonato e eles são muito rápidos.”
“Tem sido uma grande curva de aprendizado para obter o máximo de mim neste campeonato, mas acho que este ano eu contribuí também. A coisa toda foi tão bom como eu poderia ter esperado, e é por isso que eu me sinto completamente parte do Campeonato do Mundo.”
O piloto foi humilde em reconhecer que 2014 foi um ano tenso, principalmente por não ter experiência em protótipos. “Para mim, o carro está um pouco melhor este ano”, disse ele. “No ano passado eu não estava completamente feliz com o carro e teve que se acostumar com a nova categoria e como ele era. Este ano, nós obviamente colocamos mais downforce, que é algo que eu estou acostumado.”
Webber também desempenhou um papel-chave no desenvolvimento das duas versões do 919, levando em conta sua experiencia de F1, e também dos protótipos que dirigiu nos anos 90. “Eu acho que minha experiência nessa área tem sido agradável no desenvolvimento do carro”, disse ele. “Eu trabalhei duro com a equipe e sempre encontrei novas áreas para desenvolver.”
“Depois de Le Mans, eu vi a equipe tão feliz, tão animada. Os regulamentos não irão mudar muito no próximo ano, um pouco de combustível será alterado aqui e ali. Então tivemos que continuar aprendendo o máximo que pudemos. Melhoramos o carro desde Le Mans e será com ele que vamos em Silverstone no próximo ano.”
Com a Audi e Toyota com carros completamente novos a missão da Porsche e de seus pilotos não será fácil, e quem sabe a síndrome do “ex-F1”, saia um pouco das manchetes.