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Endurance tratado a sério!
O ressurgimento do Mundial de Endurance em 2012

Quem acompanhou a etapa do Mundial de Endurance da FIA (WEC) , em seu retorno ao Brasil, não se decepcionou. Muitos foram pela primeira vez, já que o Mundial esteve no país entre 2012 e 2014. 

Em suma, cobertura extensa de blogs e sites e dois canais no Youtube além do BandSports transmitindo a prova. De acordo com a organização das 6 Horas de São Paulo, foram 73.205 espectadores no circuito. 

Porém, muitas pessoas acreditam (incluindo a imprensa especializada), que o WEC surgiu na era dos Hypercars, ou seja, em 2021. A coisa é um pouco mais velha. E para entendermos isso, precisamos voltar algumas décadas. 

O World Sportcar Championship

O Auge do WSC foi o Grupo C. (Foto: Divulgação)

Como resultado, o primeiro campeonato Mundial de Endurance aconteceu em 1953. O nome,World Sportcar Championship (WSC). O campeonato surgiu para incentivar e testar os carros produzidos após a Segunda Guerra. Como a Europa dizimada, qualquer incentivo era bem-vindo para fomentar a indústria automobilística. 

O primeiro ano contou com cinco provas: Mille Miglia, 1000 Km de Nurburgring, RAC Tourist Trophy (prova em Silverstone), 12 Horas de Sebring e Carrera Panamericana (no México). As 24 Horas de Le Mans também estavam lá desde sempre, sendo o principal evento. 

Mesmo assim, a prova não fez parte do calendário nos anos de 1956, 1975-79 e 1989-90, sendo um evento à parte. Sobretudo, entre idas e vindas, o WSC durou até 1992, com o fim do Grupo C, graças ao famoso lobby da FIA e Bernie Ecclestone e sua sacrossanta Fórmula 1.  

Para se ter uma ideia, as pistas abaixo fizeram parte do WSC nos primeiros anos:

  • Mille Miglia 
  • 1000 km Nürburgring 
  • RAC Tourist Trophy 
  • 12 Hours of Sebring
  • Carrera Panamericana 
  • Targa Florio
  • 1000 km Monza 
  • 1000 km Spa 
  • 12 Hours of Reims 
  • 1000 km Buenos Aires
  • 1000 km Zeltweg 
  • 1000 km Fuji 
  • Norisring 200 Miles 
  • Watkins Glen 6 Hours 

Do mesmo modo, os fãs de carros esportivos perderam a oportunidade de ver corridas de verdade. A queda do WSC pode ser lida aqui

Os anos 2000 e a salvação do Mundial

Com a extinção do Mundial, o Automobile Club de L’ouest (ACO), se virou para manter a relevância no Endurance mundial. Ela não estava só. FIA, SRO e IMSA queriam uma parte do quinhão. 

A FIA mais para não perder o controle da coisa. Já a SRO e Don Panoz (IMSA), buscavam resgatar o óbvio, corridas de longa duração. Em 1999 surgiu a American Le Mans Series (ALMS) que teve de início provas na Austrália, Europa e nos Estados Unidos. 

Na Europa, o Le Mans Series, atual European Le Mans Series (ELMS) estreou em 2004. A ALMS acabou sendo o lar de protótipos de uma forma mais aberta. Até hoje a IMSA recebe a todos de braços abertos, muitos “refugiados” dos regulamentos sacanas da FIA. 

A “regionalização” dos campeonatos do ACO

O ALMS foi o principal campeonato sob a chancela do ACO. (Foto: ACO)

A Audi com seus modelos R8 e R10 dominaram o certame americano. Mesmo com muitos fabricantes optando por ter equipes de fábrica nas classes GT. Como a ACO tinha o controle da situação na Europa e EUA, em 2006 foi criada a Japan Le Mans Challenge (JLMC). 

A série durou dois anos e foi um acordo entre a ACO e a Sports Car Endurance Race Operation (SERO). Competiram carros das classes (LMP1, LMP2, GT1 e GT2). Mesmo com todo o apelo de ter o Le Mans no nome, a série não se mostrou atraente.

As tentativas

O recomeço aconteceu em 2009 com o Asian Le Mans Series que teve sucesso mediano. A ideia era simples. Os vencedores regionais (ALMS, ELMS e Asian LMS) se encontrariam nas 24 Horas de Le Mans. Ninguém queria ouvir falar no nome da FIA.

Nesse interím, a estabilidade de regulamentos fez a Peugeot anunciar o seu retorno a Le Mans em 2007, com o 908, protótipo a diesel nos mesmos moldes dos LMP1 da Audi. Porsche e Acura tinham seus programas oficiais no ALMS e os carros poderiam competir nos três campeonatos e tudo acabava em Le Mans. Em 2008, a Aston Martin em parceria com a Charouz Racing System estreou no ELMS e nas 24 Horas de Le Mans com um Lola B08 que no ano seguinte fez o construtor britânico entrar de forma oficial com o Lola-Aston Martin B09/60.

A Mazda gostou e entrou na ALMS, assim como a Nissan fez o mesmo na classe LMP2 com o fornecimento de motores. Como os construtores estavam olhando com carinho para o Endurance, a necessidade de algo “mundial” começou a ganhar corpo muito devido ao embate entre Audi e Peugeot que se tornou literalmente uma guerra campal a partir de 2008.

 O Intercontinental Le Mans Cup

O organograma da ACO antes do WEC

Assim, em 2010 surgiu o Intercontinental Le Mans Cup. Com apenas três provas: 1000 km de Silverstone, Petit Le Mans e os 1000 km de Zhuhai. O campeonato era disputado nas mesmas corridas da ALMS, LMS e Asian LMS. 

Tanto protótipos esportivos quanto GTs eram elegíveis para competir no ILMC: as classes LMP1 e GTE, cada uma, tinham um campeonato de construtores, enquanto todas as classes de ACO davam títulos para equipes, desde que houvesse pelo menos quatro inscrições. Em 2010 a classe GT1 foi elegível. 

Além disso, a Peugeot dominou nos dois anos que o ILMC existiu, enquanto a Ferrari e Porsche dividiram as vitórias na classe GTE. O iminente sucesso sem qualquer apoio da FIA, fez a entidade crescer os olhos para o endurance novamente. Em 2012 ACO e FIA anunciaram o World Endurance Championship ou simplesmente FIA WEC. 

Uma desconfiança pairou sobre a novidade, seria mais um golpe da FIA para matar novamente as corridas de longa duração? Mesmo com seus altos e baixos, o WEC tem atraído novos fabricantes com regulamentos mais permissivos e voltados para a sustentabilidade. 

O Mundial de Endurance

O retorno em Sebring. (Foto: Divulgação)

Como resultado, em um acordo inédito até então, FIA e o Automobile Club de l’Ouest (ACO) apertaram as mãos. De um lado o então presidente da entidade francesa, Jean-Claude Plassart (2003-2012) e o da FIA, Jean Todt (2009-2021). Todt é um entusiasta do endurance, tendo sido chefe do programa da Peugeot na época do Grupo C. Ou seja, Todt queria dar uma nova cara a FIA, tentando mostrar que o automobilismo não se resume a enfadonha Fórmula 1. 

O ACO é o promotor do Mundial e a FIA chancelaria a coisa toda, atendendo os anseios das montadoras que estavam envolvidas nos campeonatos “regionais”. Pierre Fillon, que sucedeu Plassart, teve o trabalho de gerir tudo isso. Desde então o WEC passou por altos e baixos e quase perdeu o status de Mundial por conta do Diesel Gate do grupo VW. Essa parte você confere aqui. 

Em seu primeiro ano, o WEC teve oito etapas. Contudo, a organização priorizou pistas em que o endurance teve um histórico. Ainda assim, como temos os dedos da FIA, a prova no Bahrein foi adicionada e a da China por ser uma exigência das montadoras, já que é um dos principais mercados automobilísticos do mundo. 

Calendário do WEC em 2012

  • 12 Horas de Sebring
  • 6 Horas de Spa-Francorchamps
  • 24 Horas de Le Mans
  • 6 Horas de Silverstone
  • 6 Horas de São Paulo
  • 6 Horas do Bahrein
  • 6 Horas de Fuji
  • 6 Horas de Xangai

Desde então, fabricantes e equipes entraram e saíram do campeonato. Bem como pistas que remetem a história da categoria, foram substituídas por traçados enfadonhos e sem sal (o circuito do Catar que o diga).

A FIA aprendeu a lição de não estragar o automobilismo em detrimento a F1? Não sabemos. Assim, com o avanço de outros Mundiais como a Fórmula E e o WRC , hoje o fã de corridas possuem um maior acesso a informação do que nos anos 90. E olha, mesmo com o avanço das mídias digitais existem profissionais que têm ciúmes quando notícias do WEC são divulgadas por outros jornalistas.  

Por fim, isso só mostra que o campeonato está voando em céu de brigadeiro.