Com o término das 24 Horas de Le Mans, os olhos já vislumbram a corrida de 2025. Porém, existe um Mundial de Endurance (WEC), e algumas mudanças ocorrerão para a próxima temporada.
Não é de hoje que o WEC vive seu melhor momento com os Hypercars, especialmente com os protótipos LMDh. Os carros são construídos com chassis de quatro fabricantes (Oreca, Ligier, Multimatic e Dallara). Cabe ao fabricante desenvolver a carenagem e o trem de força.
Aliado à possível participação na IMSA, as coisas ganham outra visão. Lembre-se, a montadora vende carros e o lucro é investido em eventos esportivos. Se não vende…Foi essa facilidade aliada a possibilidade do desenvolvimento do próprio chassi e custos controlados, tempos o LMH, com a Toyota, Peugeot e Isotta.
Não deu outra. Muitos fabricantes se interessaram e a ACO/WEC tiveram que organizar a turma. Primeiro foi a classe LMP2, que agora só está em Le Mans, IMSA, ELMS e Asian LMS. Foi a forma encontrada para alocar os fabricantes.
Outro ponto que gerou discussões é ter apenas dois carros por fabricante (que esteja na classe Hypercar), na recém criada LMGT3. Com tanta gente, o grid ficou em 37 carros para este ano e 40 para 2025.
WEC e a casa cheia
Porém, na sexta-feira, 14, a organização do WEC divulgou uma mudança significativa para a próxima temporada: os fabricantes de hypercars serão obrigados a inscrever pelo menos dois carros a partir de 2025. A decisão, tomada com o objetivo de “melhorar a imparcialidade esportiva e garantir igualdade de condições”, promete aumentar a competitividade e o espetáculo nas pistas.
Com a medida, uma coisa foi levantada. E as equipes de clientes que estão no Mundial? Atualmente, a Porsche é a fabricante que mais vendeu carros, seja no WEC ou na IMSA. A Ferrari tem um carro extra.
Como a classe Hypercar está elegível até 2029, um problema se criou. Quem comprou um Porsche 963 LMDh ou Ferrari 499P, quer correr no WEC e consequentemente em Le Mans. Dependendo da equipe (no caso a Proton), tem um carro em cada campeonato. Com a chegada da Aston Martin com dois Valkyrie, a superlotação chegou a um nível que fez os organizadores do Mundial a pensarem em uma solução.
A pista de Imola, que recentemente teve seu contrato renovado até 2028, também se prepara para a mudança, com a construção de quatro novas garagens para atender à demanda.
Asian Le Mans Series é uma saída?
Para tentar acalmar os ânimos, Pierre Fillon, presidente da ACO, em uma coletiva de imprensa em Le Mans, deixou claro os carros com especificações LMH e LMDh são exclusivos do Campeonato Mundial de Endurance da FIA e do Campeonato IMSA WeatherTech SportsCar. No entanto, ele indicou que há discussões em andamento para expandir a categoria para o Asian LMS.
A expansão ocorre em meio à recente decisão da FIA, ACO e IMSA de estender os regulamentos conjuntos de primeira classe no WEC e no WeatherTech SportsCar Championship até 2029. Questionado pela Sportscar365 sobre um cronograma potencial para a inclusão dos Hypercars na série asiática, Fillon respondeu: “O mais rápido possível”, embora tenha descartado a implementação para a temporada 2024-25, que continuará com as classes LMP2, LMP3 e GT3.
O dirigente deixou claro que será um novo campeonato. “Estamos discutindo com [os fabricantes] para ver como podemos gerenciar isso”, disse Fillon. “Mas é apenas um conceito neste momento.”
Grid cheio
Na última corrida da temporada 2023/24 do Asian LMS, no circuito de Yas Marina, 40 carros estavam inscritos, mostrando que a série encontrou um porto seguro. Ter uma classe HyperCar com cinco ou seis carros de forma isolada, não parece algo inteligente e viável financeiramente.
Obviamente, os fabricantes não gostaram muito. Thomas Laudenbach, chefe da Porsche Motorsport, adotou uma abordagem cautelosa: “Se eles fizerem isso, ficaremos felizes se o 963 correr lá, sim. Mas, honestamente, se for para os clientes, é uma série de uma só marca agora”, disse ele. Quando questionado sobre a presença de clientes capazes na região para operar o 963, Laudenbach respondeu: “Talvez um ou dois. Acho que na Ásia isso significaria um apoio maior nos primeiros anos para garantir que os carros sejam bem manuseados e tenham sucesso.”
Laudenbach enfatizou que outros fabricantes precisariam disponibilizar seus carros aos clientes para que a Porsche aderisse ao conceito. “Se houver uma competição e outros decidirem fazê-lo, ficaremos felizes em participar por meio dos clientes”, concluiu.
Andreas Roos, diretor da BMW M Motorsport, acredita que é “muito cedo” para adicionar a classe à série asiática e admitiu que a ACO nem sequer abordou a BMW sobre o conceito. “Os carros ainda são muito complicados e complexos para serem usados em um campeonato como o Asian Le Mans”, disse ele ao Sportscar365. “Talvez em dois ou três anos possamos discutir algo assim, mas no momento, vejo os carros como muito complexos para vários campeonatos.”
Rob Leupen, diretor da equipe Toyota Gazoo Racing, também expressou surpresa: “É a primeira vez que ouço isso. Não tenho reação. Não sei o quão grande é a série na Ásia ou quais competidores estão envolvidos.”
ACO deslumbrada?
Nesse sentido, o sucesso muitas vezes vem acompanhado do fracasso. Na história do endurance, equipes de clientes sempre “seguraram” a barra quando a coisa ia mal. Foi assim com o Diesel Gate e antes da volta do WEC, em 2012.
Sendo assim, o sucesso de uma competição depende muito da estabilidade da coisa. Com os regulamentos válidos a longo prazo o fabricante tem opções. Mas não é levado em conta crises financeiras ou a queda nas vendas de carros em produção em série. Não há fabricante que aguente. Foi assim com a crise do grupo PSA em 2011 que tirou o programa do WEC e o grupo VW (Porsche e Audi) com o Diesel Gate.
Também existe um ponto. Muitas equipes têm o dinheiro contado e ainda estão pagando o investimento feito. Os patrocinadores concordarão com tamanha mudança?
O formato do Asian Le Mans Series
Como ocorreu nos últimos anos, a temporada da série asiática aconterce na entressafra dos campeonatos europeus e americanos. Foi uma ideia sadia da ACO de estimular as equipes asiáticas além de garantir convites para as 24 Horas de Le Mans.
Aliás, Para 2024/25, serão seis rodadas duplas em três circuitos (Sepang, Dubai e Yas Marina), cada prova com quatro horas de duração. O campeonato peca em não realizar uma prova no Japão, em parceria com o Super GT ou o WEC.
Agora, uma prova com quatro Hypercars (em tese), e só quatro carros, em locais sem nenhuma tradição no automobilismo tem tudo para dar certo? Apesar dos países terem um bom mercado para carros de alto padrão, é custoso todos os trâmites para levar os protótipos, organizar uma prova e tudo q que envolve.
Por fim, a ideia da ACO vingará? Não se sabe. Ela seria mais interessante no ELMS, em pistas tradicionais e que o público gosta. Mas como a FIA gosta de corridas no Oriente Médio, as coisas acabam indo por um caminho obscuro e muito perigoso. O finado Grupo C que o diga.