Aquecimento de pneus poderá voltar nas 24 Horas de Le Mans de 2024

A polêmica envolvendo o aquecimento de pneus ganhará novos capítulos em 2024, no WEC. De acordo com os regulamentos do Mundial de Endurance, o aquecimento por meio de cobertores, porém, poderá voltar nas 24 Horas de Le Mans. 

Durante coletiva de imprensa na segunda-feira, 27, quando foram anunciados os nomes para a temporada 2024 do WEC, o CEO do Mundial, Frederic Lequien, levantou a hipótese do aquecimento de pneus retornar nas 24 Horas de Le Mans. 

“Vamos remover os aquecedores de pneus durante toda a temporada”, explicou. “É claro que Le Mans é muito específico por causa da diferença de temperatura, especialmente à noite e da diferença de categorias e habilidades dos pilotos. É uma grande mistura entre alguns gentleman drives que correm com GTs e alguns pilotos profissionais que correm nas classes Hypercar e LMP2”, explicou. 

“Quando você sai do pit lane durante a noite e as temperaturas estão bastante baixas, é possível, mas os pilotos precisam integrar isso e para isso precisamos de tempo”. 

“De momento a decisão ainda não é definitiva para Le Mans, mas para toda a temporada iremos definitivamente remover os aquecedores de pneus. Mas Le Mans é tão específico que prefiro dizer que precisamos discutir o assunto novamente e garantir que é viável”, enfatizou. 

Discussão começou em Spa-Francorchamps

Polêmica começou após incidentes na etapa de Spa-Francorchamps este ano. (Foto: Divulgação)

Aliás, o plano inicial era correr toda a temporada do WEC, incluindo as 24 Horas de Le Mans, sem aquecedores de pneus, mas isso mudou após as 6 Horas de Spa-Francorchamps, em maio.

Incidentes com pneus frios e temperaturas frias envolvendo Brendon Hartley da Toyota durante a qualificação e Antonio Fuoco da Ferrari AF Corse na corrida foram colocados em destaque.

A Ferrari foi particularmente clara sobre o assunto depois que Fuoco saiu dos boxes durante a corrida no #50. Seu chefe, Antonello Coletta, divulgou um comunicado pós-corrida que criticava abertamente o novo regulamento, classificando-o de “perigoso”.

“Partindo do pressuposto de que as regras são iguais para todos e que as cumprimos, penso que precisamos de refletir sobre a proibição de aquecedores de pneus”, disse.

“É opinião comum no paddock e entre os profissionais, sem falar nos pilotos, que esta situação se tornou perigosa. Em Spa, ocorreram muitos acidentes e episódios extremos devido às temperaturas frias e às mudanças climáticas. E é hora de pensar seriamente sobre o assunto, porque ele tem implicações importantes para a segurança.

“Estamos às vésperas de uma corrida decisiva como as 24 Horas de Le Mans. Onde, durante a noite, as temperaturas são baixas e as velocidades muito altas. Não é apenas um problema para nós. Os acidentes envolveram carros diferentes, de classes diferentes, conduzidos na altura por condutores profissionais e cavalheiros, e esta situação já estava prevista há algum tempo”.

A decisão sobre os aquecedores para Le Mans

A FIA e a ACO decidiram mais tarde trazer os aquecedores de volta para apenas uma corrida, após uma “avaliação aprofundada dos dados de utilização dos pneus juntamente com os fornecedores exclusivos de pneus do Campeonato Mundial de Endurance da FIA, Michelin e Goodyear”.

Porém, durante a coletiva, Lequien não definiu um prazo para a adoção do aquecimento dos pneus.

“Para ser totalmente transparente e honesto, é uma decisão que não posso tomar a decisão sozinho”, disse ele. “Isso deve ser discutido com a Comissão de Endurance da FIA com muitas pessoas ao redor da mesa. É muito cedo para falar sobre isso”, finalizou. 

 

Le Mans na vanguarda da tecnologia automobilistica

Durante a conferencia de imprensa na última quinta-feira (05) a ACO enfatizou o impacto industrial que às 24 horas de Le Mans causam em toda a cadeia automobilística com suas inovações e eficiência energética.

No painel estavam o presidente da ACO Pierre Fillon, Vincent Beaumesnil gerente de esportes da ACO, Pascal Couasnon, diretor de competição a Michelin, Darren Cox diretor de Marketing da Nissan, Wolfgang Ullrich diretor de Audi e Pascal Vasselon direitor esportivo do grupo Toyota.

Não é de hoje que inovações desenvolvidas para as 24 horas de Le Mans, são transferidas para outras modalidades do esporte a motor, bem como para carro de produção em série.  Fillon destacou o volante destacável, freio a disco, limpadores de para brisa, além dos faróis halógenos de quartzo. Bem como o incentivo por meio de suas regras para um melhor aproveitamento do combustível, pneus e o uso de materiais leves com grande poder de absorção em caso de impactos.

As regras impostas a partir de 2014 resultaram em uma economia de até 30% de combustível se comparada aos modelos anteriores. Outro fator que tem contribuído para isso além dos sistemas de reaproveitamento de combustível e energia é o uso de pneus mais estreitos.

Vencedor em 2014 a Audi utilizou 30% a menos de combustível do que o vencedor da prova em 2013

“Para o fabricante de automóvel Le Mans é bem mais do que uma corrida, o lugar do desenvolvimento sustentável, além da presença de mercado, tecnologia, marketing e imagem.” Aponta Ullrich da Audi.

A Audi é o melhor exemplo de como a tecnologia obtida em Le Mans foi transferida para seus carros de produção além é claro da imagem de carro “resistente” e que não quebra.  Presente em campeonatos de Endurance desde 1999 o fabricante alemão tem como slogan “Vorspring Duch Technic” algo como “fanáticos pela tecnologia,” ou “progresso através da tecnologia.”

Um dos pontos enfatizado pelo dirigente da Audi foi a injeção direta de combustível introduzida em 2001 e que hoje está presente em uma grande gama de motores de todo o grupo VW ao redor do mundo, além do sistema TDI, primeiro motor a diesel de competição lançado em 2006 e que desde então tem vencido todas as edições da prova no geral.

A nova geração de modelos híbridos também tem mostrado avanços. O vencedor de 2014 o Audi R18 venceu a prova com 25% menos de combustível do que a versão de2013 também híbrida. Em termos de comparação com a primeira versão de um motor a diesel de 2006 a economia de combustível chega a 62%.

Já a Toyota que voltou ao Endurance em 2012 também tem motivos para comemorar além das vitórias e do campeonato do WEC ano passado. O corpo técnico que trabalha em cima do TS040 Hybrid atua em conjunto com os mesmos engenheiros responsáveis pelos carros de produção em série da marca.

Para a Toyota o desenvolvimento do TS040 Hybrid está em paralelo com os carros de produção da marca.

O gigante Japonês com base nos resultados do TS040 trabalha em paralelo em cerca de 64 projetos por meio do seu departamento de competição, para as mais diversas áreas do grupo ao redor do mundo, sempre enfatizando a economia de combustível e barateamento da produção de carros em série.

Para a Nissan, por meio do seu diretor de marketing Darren Cox a chegada do fabricante e Le Mans e enfrentar Audi, Porsche e Toyota é o lugar perfeito para divulgar a marca bem como aprimorar as estratégias de marketing nos mais diversos mercados consumidores aonde o WEC vai competir.

A diversidade de carros presentes em Le Mans e no Endurance também contribuíram para o retorno da Nissan as corrida de longa duração. Segundo o dirigente a Nissan é a que melhor aproveita a imagem que Le Mans tem sobre os consumidores, vide o lançamento do novo GTR-LM durante o super Bowl.

Para a Michellin, fornecedora das principais equipes de fábrica os compostos utilizados nas últimas edições foi transferida para seus produtos normais em menos de três anos. A popularidade da prova também está em evidencia. Ao todo 263 mil espectadores estiveram no circuito durante a prova em 2014.