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Endurance tratado a sério!
Pilotos questionam o WEC por ter apenas duas classes em 2024

Quem segue o endurance sabe que ele é dividido por classes. Não é como a F1 ou demais categorias. Ele sempre possuiu um mar de carros diferentes correndo entre si. Ainda este ano, a IMSA teve suas cinco classes (GTP, LMP2, LMP3, GTD-Pro e GTD). 

Até o WEC teve quatro classes em seus primeiros anos, o que perdurou até  2022 (LMP1/Hypercar, LMP2, GTE-Pro e GTE-Am). Devido a escolhas erradas, escândalos e política, a coisa foi diminuindo. Para 2024 teremos duas (Hypercar e LMGT3). 

Mesmo que a classe Hypercar tenha um mar de fabricantes e a classe LMGT3 tenha diversos carros, deixa o negócio meio estranho, falta algo. Quem demonstrou o descontentamento foram obviamente pilotos da classe LMP2, que estará apenas na IMSA e nas séries regionais do Automobile Club de l’Ouest (ACO) o ELMS e Asian LMS. 

Para salvar um pouco, a direção do WEC alocará 15 carros LMP2 nas 24 Horas de Le Mans. Como já dito, a organização do Mundial não esperava que tantos fabricantes estariam na classe Hypercar. Algo precisava ser limado. 

Em entrevista ao site Motorsport.com. diversos pilotos demonstraram o descontentamento de não competir na classe LMP2 no WEC. Sendo assim, Gabriel Aubry, que testou para o Hypercar Isotta Fraschini no início deste ano, expressou sua decepção com a decisão de retirar a classe de protótipos secundários do campeonato.

“A história das corridas de resistência é multiclasse, certo? Então, para mim, ter apenas duas classes na corrida não faz muito sentido”, disse ele. Aubry, que competiu pela equipe Vector na classe LMP2 este ano.

“Temos visto desde a década de 60, talvez seis ou sete classes juntas e faz parte das nossas corridas onde temos que brincar com o trânsito, dirigindo em uma classe mais alta e também na classe mais baixa gerenciando o Hypercar vindo até você. Então não quero que essa história e essa parte das corridas desapareçam do WEC”. 

“Não estamos fazendo corridas de velocidade, estamos fazendo corridas de 24 horas com corridas multiclasses. Estamos vivendo juntos na mesma pista e é isso que é único nas corridas de endurance”, enfatiza. 

“Trânsito” no WEC com os dias contados? 

Tráfego entre classes com os dias contrados? (Foto: Toyota)

Uma das principais características do endurance sempre foi a confusão, muitas vezes emocionante, da disputa entre classes diferentes. Além de brigar com o adversário direto, o piloto precisa escalar o tráfego. Muitas vitórias foram obtidas mais pela astúcia do segundo colocado do que pela habilidade do primeiro. 

Agora, com apenas duas classes, parte do balé do WEC se perderá. Soma-se isso ao estilo sprint que o endurance de hoje exige. Sendo assim,o piloto da equipe United Autosports, Filipe Albuquerque, que conquistou as 24 Horas de Le Mans e o título da classe WEC com a equipa em 2019/20, alertou que o afastamento da categoria LMP2 poderá transformar algumas corridas monótonas, no melhor estilo Fórmula 1.

“A coisa mais importante nas corridas de resistência e por que as corridas de resistência são tão divertidas é porque uma volta nunca é igual à outra e o trânsito ajuda ambas as categorias”, disse ele. disse o piloto de 38 anos ao Motorsport.com. 

“Os GTs usam melhor o tráfego para obter vantagem e os protótipos usam os GTs para obter vantagem. Quanto mais bagunça, [quanto mais] classes diferentes e quanto mais carros houver em classes diferentes, melhor será para a competição”, explicou.

“Se você opta por menos carros, isso significa que você está indo mais para uma forma de corrida, corrida de classe única, que então se torna chata, porque quando você está seguindo alguém, você perde downforce”. 

“É por isso que outras séries implementam DRS para poder passar em linha reta. Bem, não temos DRS.  Se ficarmos sem outros carros para lutar para ter no mix, talvez isso possa se tornar um problema”.

Menos disputa

Além disso, o pensamento do Português é partilhado por André Lotterer, piloto da Porsche. Ele que estará em um Hypercar em 2024, tem uma visão diferente dos pilotos que estão correndo com protótipos LMP2, já que luta por uma vitória no geral. 

“É difícil dizer. Tenho que dizer sim para apoiar o campeonato, mas três classes também foram muito interessantes, mas com mais diferença de velocidade [teria sido o ideal]”, disse ao site Motorsport. 

“Foi bom [durante] o LMP1 porque eles permitiram que os carros LMP2 fossem mais rápidos e nós [no LMP1] fomos [ainda] mais rápidos. E você podia ver uma diferença entre os carros. Então isso foi legal”, relembra. 

“Por outro lado, é muito bom ver tantos carros da categoria top dos quais nunca tivemos o luxo.  Então, nesse sentido, eu preciso dizer que é melhor porque você quer ter um campo grande com muitos carros com chance de vencer, o que nunca aconteceu. Historicamente, estávamos com uma quantia muito pequena. Isso vai ser legal”. 

Sai de um, entra em outro

E para onde estão indo os Oreca 07 que saíram do WEC? Tanto a IMSA quanto o ELMS receberam o espólio, o que não é algo ruim.  Contudo, para Alex Lynn, que pilotou pela Cadillac e possui experiência em carros GT e LMP2, vê a mudança com bons olhos. 

“Acho que agora o WEC e as corridas de carros esportivos em geral estão em uma posição muito legal, onde a classe superior é tão popular, então aproveite enquanto dure”, disse. 

“A classe Hypercar é uma categoria alcançável para as equipes LMP2 avançarem. Também dá ao ELMS e a outros campeonatos a chance de ter mais grid. Então eu acho que é legal”.

Por fim. o diretor técnico da Toyota, Pascal Vasselon, explicou que simplesmente não era possível ter os LMP2 no próximo ano, dado o grande interesse dos fabricantes pelas categorias Hypercar e LMGT3. Vale lembrar que apenas 37 carros participarão do grid no próximo ano. 

“O problema é que o WEC está ficando sem boxes”, disse ele. “ Assim, o que está claro é que o Hypercar tem que estar lá e o GT3 tem que estar lá. Quando você passa por esses dois você não tem mais espaço”. 

“Além disso, acho que a decisão que eles tomaram é a decisão padrão, porque ninguém queria lançar o LMP2, mas eu diria apenas uma consequência do que está acontecendo com o enorme interesse dos fabricantes no Hypercar e no GT3”, finalizou.