Os pequenos estão deixando o WEC
Com o anúncio do cancelamento prematuro da participação da Isotta Fraschini no Mundial de Endurance (WEC), uma luz se acendeu para quem gosta de Endurance. Desde o início da regulamentação da classe Hypercar, três fabricantes independentes desistiram da competição: a Isotta, a Glickenhaus e a Bykolles (Vanwall Vandervell).
O que todos têm em comum? São protótipos LMH, ou seja, possuem chassi próprios, o que deixa tudo mais caro. A primeira desistência foi da Glickenhaus. Em outubro de 2023, Jim Glickenhaus chegou a ter dois carros competindo nas 24 Horas de Le Mans.
Em entrevista ao site Daily Sports Car, Jim Glickenhaus confirmou que os carros SCG 007 da equipe, construídos pela Podium Engineering e preparados pela Joest Racing, não retornaram, por conta dos elevados custos que a classe Hypercar do WEC exige.
Levou-se em conta também a forte concorrência, visto a grande quantidade de fabricantes envolvidos no Mundial, que só fez encarecer o desenvolvimento do SCG 007.
“Juntando tudo isso, há somas envolvidas que simplesmente não podemos justificar gastar enquanto trabalhamos na construção do negócio de carros de rua”, lamenta.
A equipe participou de 12 corridas no WEC, durante três temporadas, incluindo dois carros disputando as 24 Horas de Le Mans.
Além disso, a epopeia no endurance rendeu duas poles positions nos circuitos de Spa-Francorchamps e Monza em 2022. Por fim, o time conquistou um pódio durante as 1000 Milhas de Sebring do mesmo ano.
Vanwall Vandervell e a falta de potência
Outra baixa foi a equipe Vanwall. Assim como a Glickenhaus pegaram a equipe em cheio. Em diversas ocasiões o carro lutava com protótipos da classe LMP2, visto a defasagem de desempenho.
O tiro de misericórdia foi dado por Frédéric Lequien, CEO do WEC, que utilizou os regulamentos da categoria para negar a inscrição da equipe.
O dirigente foi enfático. “Certas decisões não foram fáceis de tomar”, declarou Frédéric durante uma mesa redonda organizada na segunda-feira, 27, de novembro de 2023. Temos um grid limitado de 37 carros, temos que ter em conta todos os diferentes critérios. Em termos de regulamentos esportivos, existem aqueles utilizados pela comissão de seleção, que se baseiam no histórico da equipe, no desempenho do carro e outros ainda diferentes”, explicou.
“Acho que tomamos decisões lógicas e justas, mesmo as difíceis de tomar”, disse. “Claro que preferiria ter todos no grid, mas temos um número limitado de carros que podemos aceitar. Então tivemos que tomar certas decisões”.
O dirigente explicou que o carro ficou aquém dos demais, em resumo, muito lento. “Em relação à Vanwall Racing, alguns critérios não estavam corretos”, ele explica. “Só quero acrescentar que tenho muito respeito e admiração pela equipe. Foi uma decisão muito, muito difícil de tomar”.
Lequien não quis comentar a decisão. Porém, segundo informações obtidas pela reportagem do site Auto Hebdo, o estatuto de fabricante da Vanwall não foi reconhecido pelo Automobile Club de l’Ouest (ACO). Em resumo, estava ocupando o espaço de uma equipe com real potencial de vitórias.
Isotta Fraschini, o último dos últimos
Para fechar o plantel de desistências, a Isotta Fraschini. Desde o começo o desenvolvimento do Tipo 6 LMH Competizione foi marcado por atrasos e escolhas erradas. O primeiro parceiro no desenvolvimento foi a Vector Sport, seguido da Duqueine. Quando tudo parecia estar nos trilhos, mudanças no regulamento da classe Hypercar que obrigam equipes a terem dois protótipos em 2025, deixaram a equipe sem saída.
Porém, antes da mudança de regulamentos, a equipe já enfrentava problemas de gestão. Claudio Berro, que esteve à frente do programa desde que a empresa se tornou totalmente italiana e liderou o projeto Tipo 6 Competizione, foi substituído pelo recém-nomeado CEO, Miguel Valldecabres. A notícias foi divulgada pela equipe no dia 09 de julho deste ano.
Mesmo com uma nova direção, os custos de um segundo carro e a falta de um parceiro forte e o rompimento com a Duqueine deixou tudo pior do que estava.
Além disso, a retirada acontece pouco mais de um mês após uma reformulação na gestão da equipe. Quando o então gerente de automobilismo, Claudio Berro, deixou a empresa, sendo substituído pelo CEO Miguel Valldecabres. Ao todo, a Isotta Fraschini participou de cinco corridas nesta temporada. Incluindo a estreia nos 1.812 km do Catar e sua participação nas 24 Horas de Le Mans em junho.
“Estamos imensamente orgulhosos de nossas conquistas em nossa temporada de estreia”, declarou Valldecabres. Ele destacou que a decisão de se retirar do campeonato não foi tomada de forma leviana. Mas visa garantir o desenvolvimento da marca e dos produtos da empresa no mercado de corrida e Hypercars. O CEO também mencionou que a não continuidade na temporada 2024 é uma medida estratégica para conservar recursos e assegurar a viabilidade do projeto.
O valor de um protótipo LMDh no WEC
Sem esses fabricantes a pergunta que fica é: Não era mais fácil ter comprado um chassi LMDh e colocado apenas o seu motor? Não é bem assim, nenhum dos três desistentes teve um carro com sistema híbrido, o que já deixa tudo mais em conta.
Aliás, a Porsche é a única fabricante que comercializa o 963 LMDh. O valor? De acordo com informações obtidas pelo site Endurance-Info, um 963 custa cerca de 2,5 milhões de euros, mais custos operacionais de cerca de oito a dez milhões de euros por temporada.
O valor é alto e apenas equipes como a JOTA (que trocou o Porsche pela Cadillac) e a Proton Competition conseguiram bancar. A Porsche já deixou claro que venderá novos 963 se puder dar todo o suporte necessário, ou seja, quer ofertar um carro vencedor.
Por fim, a classe Hypercar é mais barata do que os antigos LMP1 híbridos. Porém ficou claro que projetos de fabricantes pequenos não terão vez WEC. Uma aposta perigosa.