O odisseia do Team Pace nas 24 horas de Le Mans de 1978
O Mundial de Endurance e por consequência Le Mans soam como novidade para a grande maioria dos que acompanham o automobilismo no Brasil. Com uma história rica na F1 com os títulos de Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna, temos a infeliz mania de descartar qualquer categoria fora a Fórmula 1.
Porém, nunca demos o devido valor a pilotos que venceram ou competiram em outras categorias ditas “de segunda”. Assim, nomes como Oswaldo Negri, Fernando Rees, Thomas Erdos tem o devido reconhecimento em sua terra natal. Isto apenas para citar alguns.
Antes de mais nada, o ano é 1978. Enquanto o Brasil acompanhava Fittipaldi e sua epopeia com a equipe Coopersucar, Nelson Piquet competiu pelas equipes Tissot e Brabham. Não muito longe dali, já que naquela época a F1 tinha um calendário com forte presença de circuitos Europeus, Alfredo Guaraná, Paulo Gomes e Mário Amaral estavam as voltas com o Porsche 935/77. A princípio, a inciativa se deu pelo então presidente da confederação brasileira de automobilismo, Charles Naccache. Assim, grande parte dos patrocinadores foi de empresas locais como a Coca Cola, Modelo, Center Fabril e Gledson.
O início do sonho
Além disso, o sonho do trio tinha se tornado realidade, disputar as 24 horas de Le Mans. Naquele ano a vitória ficou com o Renaul Alpine A442B dos pilotos Didier Peroni e Jean-Pierre Jaussaud. A dupla francesa superou as adversidade normais em uma prova de longa duração e as investidas da equipe Martini Porsche que tinha Bob Wollek, Jurgen Barth e Jacky Icks no 936/78 #6 e Haurley Haywood, Eter Gregg e Reinhold Joest no #7.
Nesse ínterim, os dois Porsche completaram o pódio. Em um sétimo lugar e com 40 voltas a menos vinha o Porsche #41 dos brasileiros que estava inscrito na classe GR.5 chegou na segunda posição. Para entendermos um pouco como começou esta aventura dos brasileiros começou temos que voltar um pouco.
O Team Pace
Na época Fittipaldi e José Carlos Pace, popularmente conhecido como Moco, vinham representando bem o país na Fórmula 1. Porém no dia 18 de Março de 1977, Pace sofre um acidente aéreo na Serra da Cantareira, situada ao norte da cidade de São Paulo.
Contudo, uma das principais homenagens, ou a mais conhecida foi dada pela administração na cidade de São Paulo em 1985. O autódromo de Interlagos, o principal do Brasil passou a se chamar Autódromo José Carlos Pace. Coincidentemente foi em Interlagos que Pace conquistou sua única vitória na F1 em 1975, a bordo de um Brabham BT44B com as cores da Martini. Naquele GP Emerson Fittipaldi chegou na segunda posição.
Le Mans não era algo totalmente desconhecido de Moco. Além disso, ao lado de Arturo Merzario chegou em segundo lugar na edição de 1973 das 24 horas de Le Mans a bordo da Ferrari 312PB #16 da equipe italiana. Até então o melhor resultado de um brasileiro na grande clássica.
Para 1977 o Porsche #41 da equipe Mondelo ASA Cachia foi (verdadeiro nome do Team Pace) de propriedade de Henri Cachia, foi rebatizado com o nome do brasileiro. Esta foi a forma do trio Paulão, Marinho e Guaraná homenagear o conterrâneo.
E equipe não era amadora. Um ano antes o 935 desta vez com o #40 chegou em terceiro em Le Mans com o americano Peter Gregg e Claude Ballot-Léna. As esperanças da equipe eram boas para 1978.
O Porsche da Team Pace
A princípio, feito com base nas regras do grupo 5 da FIA, o 935 ganhou as pistas em 1976, tendo antecessor o Carrera RSR que chegou em segundo lugar em Le mans no ano de 1974. O modelo era elegível no World SportsCar Championship (atual WEC), IMSA GT e no DRM na Alemanha.
Com um motor boxer de seis cilindros turbo alimentado, o 935 gerava uma potência na casa dos 560 cv. Pesando pouco mais de 900 kg, se tornou um vencedor com o primeiro lugar em circuitos como Sebring, Daytona além de Nurburgring. Por conta do seu desenho e cor branca da modelo 935/78 recebeu o sutil apelido de Moby Dick, a baleia da espécia cachalote do romance homônimo escrito por Herman Melville, que enfrentava com bravura seus opositores.
A Corrida
Em 1978 Le Mans prometia mais um embate entre a Renault que tentava repetir as vitórias de 76 e 77 e a Porsche que alinhou três modelos 936 que também tinham conquistado vitórias em Sarthe, além da versão Moby Dick do 935 que estava inscrita na grupo 5.
Os brasileiros competiam com uma versão anterior e viram que o “novo” 935 por muitas vezes foi mais rápido do que os protótipos da Renault e Porsche inscritos pelo grupo 6. Para muitos o defeito, talvez o único era o alto consumo do 935/78. Ali poderia estar a chance que os brasileiros poderiam aproveitar para vencer em sua classe.
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Na seção classificatória o Porsche do Team Pace dos brasileiros conseguiu a 23º no geral e em sexto no seu grupo. A volta que valeu a pole foi dada por Paulo Gomes marcando 3:59.5. Seu companheiro Alfredo Guaraná marcou o tempo de 4:01.4 e Mário Amaral 4:04.2. Em termos de comparação a pole na classe ficou com o Porsche Moby Dick com 3:30.9. Restava aos brasileiros torcer e aguardar o que as 24 horas iriam oferecer para eles.
Com a prova em andamento o Porsche Moby Dick terminou a primeira hora em oitavo, ficando em quinto na segunda hora. Porém na 18º o carro perdeu a liderança na classe. Os brasileiros iniciaram Le Mans com uma modesta 28º posição.
Seus principais concorrentes, o Porsche #44 da equipe Kremer dos americanos Jim Busby, Chris Cord e Rick Knoop iniciou os trabalhos na 12º posição e foram se mantendo entre os primeiros. Todavia, os brasileiros foram se valendo das adversidades dos adversários e galgando posições, até chegar na sétima posição no geral, enquanto o #44 ficou na sexta vencendo em sua classe.
Os desafios de Le Mans
Mesmo encostando nos rivais acabaram com 7 voltas de desvantagem. Um ponto a favor foi a economia de equipamento. Nesse meio tempo, ao contrário do seus concorrentes, o Porsche #41 fez as parada habituais de reabastecimento e troca de pneus, com tempos inferiores a 10 minutos.
Por fim, em ritmo de corrida o Porsche da Team Pace #41 teve a volta mais rápida em 4:03.6. Na reta Mulsane Paulo Gomes marcou a velocidade de 307 km/h. Como premio pelo segundo lugar na classe a equipe recebeu 5 mil francos. Os vencedores no geral, receberam 12 mil. Vale destacar que o trio teve pouco tempo para conhecer e se habituar ao carro.
Reportagem do programa “Linha de chegada” do canal Sportv entrevistando Alfredo Guaraná.