bongasat.com.br

Endurance tratado a sério!
Imprevisibilidade marca as 24 horas de Le Mans 2017
(Foto: FIAWEC)
Porsche vence a 19º vitória no geral em Le Mans. (Foto: FIAWEC)

O texto já estava na cabeça deste a tarde de sábado. O desempenho superior da Toyota, acabou facilitando as coisas. Estava acompanhando a prova pelo canal Eurosport (acredite é outro nível de cobertura), e acreditando que neste ano a coisa ia. Mas não foi. Dizem que Le Mans escolhe os seus, e mais uma vez a profecia se fez.

 

Timo Bernhard, Earl Bamber e Brendon Harley foram os agraciados. As intempéries que assolaram todos os protótipos da classe LMP1, também bateram a porta do Porsche #2. Ainda na primeira parte da prova, um sério problema na suspensão, fez o carro ficar parado nos boxes por mais de uma hora.

 

Se para os alemães as coisas já não andavam bem desde os treinos, para a Toyota tudo ia bem. Largando com três carros, a equipe liderou de forma consistente até a 10 hora, quando o TS050 #7 do trio formado por Mike Conway, Kamui Kobayashi e Stéphane Sarrazin teve que abandonar por problemas de câmbio. Mais uma vez coube ao competente Kobayashi encerrar a triste participação do seu LMP.  Os problemas da Toyota começaram com o #8 que parou por conta de problemas no motor. Conseguiu voltar a prova, muitas voltas atrás.

Resultado final da prova


Resultado corrida 2 Road To Le Mans

Todas as esperanças dos japoneses foram depositadas no #9 que acompanhava de longe os ponteiros. Após um toque na chicane Dunlop, e seriamente avariado, voltou se arrastando aos boxes. Faltando poucos metros para entrar nos pits, e quem sabe voltar a prova, os faróis desligaram pela última vez. Ali terminada o sonho da tão sonhada vitória da Toyota em Sarthe. Os três carros acabaram avariados um sonho que se desfez em um intervalo de pouco mais de 2 horas.

 

Para o presidente da Toyota Toshio Sato, a equipe não vai desistir do sonho de vencer Le Mans. “Toda a equipa está arrasada com o que aconteceu aqui, depois de todo o trabalho duro e esforço ao longo dos últimos meses para chegar a Le Mans com um carro tão competitivo. Nosso ritmo era muito bom durante toda a semana e estávamos ganhando uma luta dura com a Porsche. Os pilotos, engenheiros e mecânicos realizaram umgrande trabalho durante esta semana e eu gostaria de agradecê-los. Claro, nós felicitamos a Porsche em sua vitória, porque, sem dúvida, ela mereceu vencer hoje. Deixamos Le Mans novamente sem o troféu do vencedor, apesar do incrível apoio dos fãs. Vamos analisar o que deu errado, porque não podemos aceitar uma aposentadoria dupla. Vamos voltar mais fortes e mais determinados do que nunca; nosso desafio Le Mans vai continuar”.

Toyota dos sorrisos ao choro. (Foto: Divulgação)
Toyota dos sorrisos ao choro. (Foto: Divulgação)

A Porsche que estava acompanhando tudo de longe, liderava com o #1 de Neel Jani, André Lotterer e Nicholas Tandy. Sendo o único P1 na pista durante a madrugada, o 919 andava literalmente pisando em ovos. Tudo parecia bem, mas faltando 4 horas para o término da prova, a pressão levou por terra qualquer chance de vitória.

 

Se na LMP1 as coisas não foram como planejadas, a briga pela liderança na LMP2 acabou chamando mais atenção do que na classe principal. Literalmente sem adversários, a briga entre os protótipos Oreca foi intensa, culminando com a liderança do #38 da Jackie Chang DC Racing, dos pilotos Ho-Ping Tung, Thomas Laurent e Oliver Jarvis. A briga na classe foi entre os dois LMP da DC Racing, além da forte equipe Valiante Rebellion que ficou com seus dois protótipos na liderança da classe por várias horas.

“Uma de nossas metas ambiciosas para a temporada de 2017 era conseguir um hat-trick em Le Mans. Mas o que  passamos ao longo dos últimos 24 horas, você não poderia imaginar em seus sonhos mais selvagens. Esta corrida nos levou ao limite. É inacreditável o que você pode conseguir com esforço. Às vezes não é o carro mais rápido, mas o melhor desempenho da equipe que faz a diferença. Esta equipa é o melhor de todas e fez o sucesso de hoje possível. A reação de todos os lugares é esmagadora – dos funcionários da Porsche e também ao redor do mundo. Pessoalmente, eu só posso dizer muito obrigado a Porsche por me colocar na posição de criar um grande programa e graças a cada membro da equipe um grande abraço.” Disse o vice presidente do programa LMP1 da Porsche, Fritz Enzinger.

 

DC Racing vence na classe LMP2. (Foto: Divulgação)
DC Racing vence na classe LMP2. (Foto: Divulgação)

Oliver Jarvis que largou na terceira posição na classe, também enfrentou problemas durante uma das paradas nos boxes. Seu companheiro Thomas também parou na curva Indianápolis com problemas. Com uma forte recuperação, a equipe liderou a prova por algumas horas, sendo superada pelo Porsche #2 faltando 1 hora para o término da corrida. Se já tinham feito história com a liderança, fizeram ainda mais com o segundo lugar no geral. Em terceiro na classe o Rebellion #13 de Nelson Piquet Jr., David Heinemeier Hansson e Mathias Beche. A DC foi a primeira equipe chinesa a vencer em Le Mans, bem como Thomas Laurent com apenas 19 anos, subiu ao pódio.

 

Os demais brasileiros tiveram desempenhos condizentes com suas equipes. André Negrão que dividiu o Alpine #35 com Pierre Ragues e Nelson Panciatici terminou na quarta posição na classe e quinto no geral. Bruno Senna terminou na 15º posição com o segundo carro da Rebellion, o #31 partilhado com Nicolas Prost e Julien Canal. A Oreca foi a grande vencedora entre os construtores. Das cinco primeiras equipes na classe, quatro estavam competindo com o modelo de francês. O melhor Ligier JS P2017 foi o #32 da United Autosports na quinta colocação.

 

“Foi uma corrida extremamente difícil. O começo foi muito bom, com uma estratégia perfeita da equipe. No meio da prova, houve alguns probleminhas no carro. Os pit stops foram difíceis, o motor de arranque parou de funcionar, então em todas as paradas nós demoramos uns 20 segundos a mais.  Tive de forçar muito no fim, o Mathias Beche passou mal, então tive de cobri-lo um pouco. No fim deu tudo certo! Comentou Nelsinho que sofreu uma punição, por se envolver em um toque na penúltima hora de prova no Ligier #49 da equipe ARC Bratislava.

 

Bruno Senna lamenta: Foi frustrante”, admitiu Bruno, que partiu em 4º e assumiu a ponta com menos de 30 minutos de corrida. “O carro estava bom em todas as condições e as chances de ganhar eram mesmo enormes”, afirmou, depois de receber a bandeirada ao final de 340 voltas, 26 atrás do time vencedor. Rubens Barrichello que estreou na prova no Dallara #29 da equipe Racing Team Nederland ao lado de Jan Lammers e Frits Van Eerd, terminou em 12º.

 Luta na classe GTE-PRO até o fim

Depois de 10 anos, Aston Martin vence em Le Mans. (Foto: FIAWEC)
Depois de 10 anos, Aston Martin vence em Le Mans. (Foto: FIAWEC)

As emoções não se resumiram somente as classes de protótipos. A vitória do Aston Martin #97 de Jonathan Adam, Darren Turner e Daniel Serra em cima do Corvette #63 de Jan Magnussen, Antonio Garcia e Jordan Taylor, fez até o maior dos descrentes rever seus conceitos. O BoP funcionou desta vez. As cinco primeiras posições foram ocupadas por cinco carros diferentes.

A briga entre Corvette e Aston Martin, remete aos bons tempos da classe GT1, algo que não se via na prova a mais de 10 anos. O último triunfo da equipe inglesa foi em 2007 com Darren Turner, Rickard Rydell e David Brabham. O primeiro lugar para o #97, a primeira para a Aston Martin na classe GTE-PRO, aconteceu após um furo no pneu dianteiro-esquerdo no Corvette #63.

 

Foi a terceira vitória de Turner na classe, e a primeira do brasileiro Daniel Serra e Jonathan Adam. Mesmo com o pneu furado, Taylor conseguiu levar o carro ao terceiro lugar. Foi também superado pelo Ford #67 de Andy Priaulx, Harry Tincknell e Pipo Derani.

 

Vários carros sofreram com acidentes. Tommy Milner perdeu o controle do Corvette #64 nas curvas Porsche. Voltou para os boxes com apenas três rodas. Michael Christensen também teve que abandonar com o Porsche #92. A equipe AF Corse também enfrentou problemas com o #51 de James Calado, Alessandro Pier Guidi e Michele Rugolo. Calado perdeu muito tempo nos boxes por conta de um furo no radiador. O Aston #95 também sofreu com um furo no pneu traseiro esquerdo.

 

JMW vence na classe GTE-AM. (Foto: Divulgação)
JMW vence na classe GTE-AM. (Foto: Divulgação)

Na classe GTE-AM o favoritismo do Aston Martin #98 foi por terra após um furo no pneu, e os danos causados por percorrer a pista sem uma das rodas. Coube a equipe JMW dos pilotos Rob Smith, Will Stevens e Dries Vanthoor vencer na classe. A Ferrari #84 partiu da sexta colocação na classe, assumindo a liderança na terceira hora de prova.

 

Em segundo a Ferrari #55 da equipe Spirit of Race dos pilotos Duncan Cameron, Aaron Scott e Marco Cioci. Na terceira colocação a Ferrari #62 da Scuderia Corsa de Townsend Bell, Bill Sweedler e Cooper MacNeil. O aston #99 da Beechdean AMR e a Ferrari #61 da Clearwater Racing completam os cinco primeiros.

 

O Corvette #50 da equipe Larbre Competition, no qual competia o brasileiro Fernando Rees, largou na pole, porém acabou na última posição na classe depois do carro sair da pista. O Porsche #77 da equipe Dempsey-Proton Racing também enfrentou problemas, terminando na sexta posição. O segundo carro da equipe, o #88 não completou a prova.

O presidente da Toyota Akio Toyoda esteve nos boxes da equipe em Le Mans. Após a corrida divulgou o comunicado abaixo.

“Desculpe, não fomos capazes de deixá-lo pilotar totalmente.

Normalmente, seria adequado  começar com palavras de apreço pelo apoio que nos foi fornecido por nossos fãs. No entanto, para este tempo em Le Mans, acho que primeiro devo dirigir minhas palavras para os nossos pilotos.

Foi minha primeira vez em Le Mans, um dos nossos pilotos disse: “Queremos que se junte a nós no centro do pódio, para isso, nós definitivamente não podemos perder, e então, lute juntos conosco.

Em troca, eu disse: “Faça o seu melhor. Aproveite o carro, aproveite Le Mans…”

Apesar de ter lhe dito isso, não fomos capazes de entregar um carro vencedor. Isso, eu realmente lamento. Mesmo que nossos pilotos acreditaram em nossos carros, só posso dizer o quanto lamento e como estou cheio de remorsos.

Eu acredito que os engenheiros da Toyota, mecânicos e fornecedores de peças, que construíram nossos carros para esta batalha, sentem o mesmo.

Assim, tendo a carga como representante de todas essas pessoas, por favor, deixe-me dizer mais uma vez: “Desculpe, não fomos capazes de deixá-lo pilotar totalmente.”

Além disso, a todas as pessoas relacionadas à equipe Toyota, incluindo os nossos nove pilotos, eu gostaria de compartilhar duas coisas em minha mente neste momento.

A primeira é para os nossos fãs. Para todos os fãs que nos apoiaram acreditando na vitória, eu realmente sinto muito que não foram capazes de atender às suas expectativas.

E por acreditar em nós e nos dando seu apoio apaixonado por 24 horas todo o caminho até o fim, quero expressar o meu apreço mais profundo. Obrigado. Obrigado a todos.

Mais uma vez, a Toyota vai esforçar-se para que podemos, juntos, têm sorrisos em nossos rostos.

A segunda é para a equipe Porsche.

Após a batalha do ano passado, eu felizmente recebi muitos comentários de pessoas no Porsche reconhecendo-nos como um rival.

Viver até ter sido chamado de “rival”, eu tinha pensado que o que precisava fazer este ano para proporcionar uma luta brilhante que iria cativar os fãs.

É por isso que a equipe foi capaz de enfrentar desafios ousados que resultaram em novas tecnologias e competências.

Para a equipe de Porsche, eu digo parabéns. Também te digo muito obrigado.

No final, no entanto, a Toyota não foi capaz de colocar-se no tipo de luta que poderia cativar os fãs, como fez no ano passado.

Desta vez,  Porsche e nós, não fomos capazes de completar sem incidentes as 24 horas com nossos carros híbridos.  Mesmo o carro #2 que ganhou a corrida e o nosso #8, foram obrigados a passar por reparos, lutando para cruzar a linha de chegada. Embora a tecnologia híbrida que tem avançado através da competição no Campeonato Mundial de Endurance FIA coloca suas habilidades em exibição em corridas de seis horas, pode ser que ainda não esteja pronta para a longa distância das 24 Horas de Le Mans.

O poder da eletricidade é absolutamente necessário para os carros assumirem uma presença mais-emocional. Le Mans é um laboratório precioso em que podemos continuar a enfrentar os desafios relacionados com as tecnologias envolvidas, colocando essas tecnologias para o teste em um ambiente extremo.

Vamos aprimorar nossas tecnologias ainda mais longe, fornecendo aos nossos clientes com tecnologias que realmente o farão sorrir. E nós, vamos continuar fazendo o esforço após esforço para que possamos continuar a fazer carros cada vez melhores.

Nós convidamos você a olhar para a frente. Obrigado.”

Akio Toyoda

Presidente

Toyota Motor Corporation

* Com informações: Porsche AG, Toyota Motor Corporation, Assessorias de imprensa dos pilotos Bruno Senna e Nelsinho Piquet

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.