Como foi a corrida dos Mil Anos?
Neste final de semana acontece a segunda etapa da Asian Le Mans Series, no circuito de The Bend, na Austrália. A prova marca o retorno de uma competição de endurance sob a chancela da ACO no continente. A última prova foi realizada no dia 31 de dezembro de 2000, com o sugestivo nome de Corrida dos Mil Anos.
Organizada por Don Panoz, a prova foi a última etapa da American Le Mans Series daquele ano, competição estadunidense que durou até 2013, quando a IMSA e a Grand-Am se uniram. A corrida foi uma forma de “comemorar” o final do século 20.
Disputada no circuito de Adelaide, traçado utilizado pela F1 entre 1985 e 1995, a corrida teria uma distância de 1000 Km, mas foi interrompida duas horas antes da meia-noite, tendo percorrido 850 Km.
Além de fazer parte do calendário da ALMS, a corrida seria o primeiro esboço da Asian LMS. O primeiro evento foi os 1000 Km de Le Mans Fuji em 1999. A ideia era criar a Série Ásia-Pacífico de Le Mans (APLMS), organizada por Panoz e a IMSA, algo que acabou não saindo do papel.
O acordo previa nove etapas no circuito de Adelaide, mas apenas a edição de 2000 acabou acontecendo. Os organizadores esperavam um público de aproximadamente 200 mil pessoas, mas 135 mil acompanharam o evento.
A corrida
Um dos pontos mais marcantes da prova, foi o Audi R8 #77 com a pintura de Crocodilo, dos pilotos Rinaldo Capello, Allan McNish e Brand Jones. Capello e McNish precisam das 25 voltas iniciais para conquistar o título da ALMS daquele ano. Jones foi o piloto responsável por guiar o carro no treino classificatório, mas não participou da prova, pois McNish acabou enfrentando problemas nas costas e era dúvida se aguentaria competir.
O ex-diretor de Motorsports da Audi, Dr. Wolfgang Ullrich, conta que o Audi R8 com a pintura de crocodilo, foi um dos destaques da prova. “Para esta corrida especial organizada na Austrália, no último dia de 2000, no último dia do século 20, nossa equipe de design propôs uma decoração original para uma das nossas duas máquinas inscritas. Uma pintura de crocodilo! Foi uma boa ideia. Em seguida, tivemos que convencer nossos parceiros habituais a apoiar o carro. Quando chegamos a Adelaide, alguns de nossos adversários usavam os chapéus tradicionais do “Crocodile Dundee”. Eles queriam dominar o crocodilo. Foi divertido, esse ambiente descontraído reinou por toda a cidade. Não havia um lugar onde não falássemos sobre essa corrida, essa festa. Nos ônibus, havia indicações para chegar a Le Mans! o endurance foi comemorada em toda parte. E vencemos com o “Crocodilo”, lembra.
Vinte e cinco carros participaram. Destes, 17 completaram a prova. Com três classes (LMP, GTS e GT), modelos como Dodge Viper GTS-R, Panoz LMP-1 Roadster-S, Porsche 911 GT3-R, Lola B2k/10, BMW M3 e Cadillac Northstar LMP.
“Quase 20 anos já! O tempo voa!” exclamou Allan McNish, que comemorou 50 anos, em 29 de dezembro de 2019, “As circunstâncias foram únicas. Fizemos a viagem em 23 de dezembro e comemoramos o Natal com 31ºC, o que para um escocês é difícil de acreditar. A cidade inteira estava agitada por causa do evento especial. A atmosfera no circuito era bonita. descontraído, como em Sebring. Dindo Capello e eu compartilhamos o Audi estilizado. Eu até fiz um capacete correspondente. Essa corrida é até hoje uma das minhas melhores lembranças”, comenta.
O escocês conta que a prova não foi tão fácil, mesmo tendo o melhor carro do grid. “Conquistamos a pole position, marcamos a volta mais rápida da corrida e vencemos com nosso carro de crocodilo. Foi a primeira vitória da Audi na American Le Mans Series. Subimos ao pódio após as 22h30, e fizemos entrevistas, e então foi o novo ano de 2001. Foi realmente estranho! Um “acidente” com o kilt, roupa tradicional na escócia, quase impediu que McNich disputasse a prova. “Me machuquei,removendo meu kilt depois de uma sessão de fotos, antes da corrida. Eu tive que ir ao hospital no meu aniversário. Eu não tinha permissão para me mover se tivesse alguma esperança de começar a corrida. Então, eu não fiz os treinos livres ou as sessões de qualificação. Eu tive que fazer pelo menos duas voltas no carro antes do início. Houve um momento em que pensamos que Brand era alto demais. No final, quanto mais tempo eu passava no carro, menos minhas costas doíam. Mudanças de piloto podem ser desafiadoras. Então, continuei fazendo a corrida e permanecendo no R8 no stint final. Vou me lembrar dessa corrida para sempre. Devo dizer que o circuito foi realmente bom para nossos protótipos e para corridas de endurance. Era grande o suficiente para ultrapassar, mas esburacada e, se você cometer um erro ao ultrapassar, pode facilmente acabar no muro. Você realmente teve que trabalhar por um bom tempo. Eu realmente gostei dessa corrida”, finalizou.
A vitória na classe GTS (GT1), foi de Olivier Beretta, Karl Wendlinger e Dominique Dupuy, com o Viper #91 da equipe Oreca que conquistou a terceira posição no geral. O vencedor da classe GT (GT2/GTE), foi o Porsche #5 da equipe Dick Barbour Racing, dos pilotos Dirk Muller e Lucas Luhr.
* Com informações do site lemans.org