Por muitos e muitos anos o Endurance foi visto como o quintal de senhores endinheirarmos, que competiam literalmente por esporte, já as equipes muitas delas de fábrica usavam e usam a modalidade como laboratório para testar tecnologias para os carros de série. Sempre foi assim.
O endurance sempre teve mais importância do que a F1, principalmente nos anos 70 e 80 com o ápice sendo o Grupo C, com mais equipes de fábrica do que qualquer outra modalidade. Até chegar um certo Bernie Ecclestone e mexer os pauzinhos e forçar a FIA a mudar o regulamento da modalidade no início dos anos 90. E todos sabem como acabou.
De lá até a metade dos anos 2000 a ACO fez o que pode para trazer de volta o brilho que outrora a modalidade tinha. Não foi fácil, equipes e carros dadas as circunstâncias, principalmente econômicas foram aderindo e voltando a se interessar pela coisa. Audi, Porsche, Peugeot e Aston Martin foram as primeiras a apostar nesta nova era das provas de Longa duração.
Mas faltava algo. Faltava um campeonato com status de mundial e que chamasse novos pilotos e não apenas pilotos em “fim de carreira” como grande parte da imprensa papa ovo que só enxerga F1 costuma chamar quem se bandeira para esses lados.
Por pressão das equipes surgiu o ILMC, embrião do atual WEC, que quando foi anunciado trouxe uma certa apreensão, já que a FIA acabou com a modalidade uma vez, não poderia acabar novamente? Não confio em nada que a FIA bota a mão mas até agora as coisas estão indo bem.
Este foi o estopim para vários pilotos de renome e oriundos da peneira política e dinheirista da F1 voltar os olhos para o Endurance, não como algo para o fim de suas carreiras, mas como uma nova fase com carros de ponta e principalmente condições de vencer, sem meios obscuros como jogos de equipe e carros batendo em muros.
Vários nomes que competiram na categoria “máxima” já passaram ou estão atualmente competindo, Olivier Panis, Jacques Villeneuve, Martin Brundle, Giancarlo Fisichella, Kamui Kobayashi, Sebastien Bourdais, Nick Heidfeld, Sebastien Buemi, Anthony Davidson, Allan McNish, Romain Grosjean, Alex Wurz, Bruno Senna.
Mas talvez o maior expoente desta nova fase do WEC seja a contratação de Mark Webber pelo time oficial da Porsche. Cansado de ser segundo piloto da Red Bull e ficar à margem de Sebastiem Vettel, o australiano acabou contratado pela principal ou pelo menos mais carismática equipe do certame.
Claro que a direção do WEC usa ele como expoente para promover a categoria e dar uma alfinetada na F1, como uma modalidade aonde o esporte mesmo com mais bagagem tecnológica ainda consegue preservar algo tão comum e necessário em uma corrida de carros. O carro mais rápido vence.
Webber se tornou indiretamente o embaixador de uma classe de pilotos que querem vencer sem as firulas da F1, e entre eles estão Fernando Alonso e Jenson Button. O primeiro deu a bandeirada das 24 horas de Le Mans deste ano, e se mostrou maravilhado com a atmosfera do lugar, e foi visto durante as 6 horas do Bahrain.
Os fãs podem chegar perto dos carros, boxes, existe uma vida fora da corrida, ao contrário da F1 que muitas vezes botam atiradores de elite para blindar seus astros. Já Button que não renovou seu contrato com a McLaren também já esboçou interesse pela categoria. Mesmo dado como certo o anúncio de Alonso no lugar de Button na equipe inglesa algo fisgou o espanhol. Por mais que vá para a McLaren, que volta a competir com motores Honda não terá um carro vencedor no primeiro ano, ou a ponto de vencer corridas tão rapidamente. E o espanhol tem pressa.
Outro nome apontado pela imprensa internacional é o de Nico Hulkenberg que poderia alinhar no terceiro Porsche em Le Mans e SPA. O piloto já testou o 911 GT3-R Hybrid a algum tempo e gostou da experiência. Até Jean-Eric Vergne já esboçou seu interesse por Le Mans ano passado.
Além disso a presença de equipes de fábrica acabam sendo um belo chamariz para demais fabricantes se interessarem pela categoria. Audi, Porsche, Toyota, Aston Martin e mais recentemente Nissan preferem competir aonde se pode testar soluções para vencer corridas, não necessariamente baseadas em consumo de pneus.
Os custos mesmos para as equipes LMP1 são em torno de 200 milhões de euros por três carros, que tem uma vida útil de pelo menos três temporadas. Ao contrário da F1 que tem que desenvolver um carro praticamente do zero todos os anos.
A algum tempo a DTM era o único certame que interessava os ex-F1, pelo nível tecnológico e competitividade. Ralf Schumacher, Mika Hakkinen, Vitaly Petrov, Jaime Alguersuari, Jean Alesi e Timo Glock, tentaram a sorte no campeonato alemão sem grandes desempenhos. Neste plantel o único que conseguiu sucesso foi Paul di Resta. Já Fisichella e Kobayashi foram mais felizes na classe GTE.
A crise que envolve a F1 atualmente e principalmente a gestão que Bernie Ecclestone emprega na categoria vem matando a categoria ano a ano. Aqui no Brasil é necessário abrir os olhos para o Endurance e tantas outras categorias automobilísticas com mais emoções e competitividade. Infelizmente somos reféns do sucesso de nossos pilotos na categoria, mas os tempos são outros.
Torço para que o WEC e o Endurance em si, se firmem como a principal categoria automobilística do mundo. Claro que isto é relativo pois não é a única a ter emoção, disputas e bons pilotos, mas é a única que pode superar a F1 em termos tecnológicos, se já não superou e pela preferência do público, que quer ver bons pegas e principalmente sem jogos e equipes e regulamentos pouco úteis para o bom andamento das corridas.