Cada uma…

Mereço! (Foto: Os Simpsons)

Caro Rodrigo Mattar. Desde ontem vários amigos e seguidores me enviaram suas palavras sobre uma postagem que fiz sobre o cancelamento das transmissões do WEC pela BandSports. Assim como você, eu e vários torcedores e fãs da categoria, ficamos surpresos como a coisas terminaram. 

Noticiei um fato, fato este confirmado pelo programador do canal. Simples assim. Se não citei a Fox Sports que sempre transmitiu e continuará transmitindo, não é porque tenho algum tipo de rusgas ou qualquer tipo de sentimento negativo contra você ou o canal. O gancho jornalístico era o cancelamento da transmissão. Poderia ter feito uma retranca avisando que no canal da raposa, a corrida estava confirmada, mas não o fiz. Como trabalho em dois meios de comunicação, a coisa precisa ser dinâmica.

Estou tentando entender o porque de tanta energia quanto a isso. Foi por não ter noticiado que a Fox transmitiria? Se é isso, não tem problema. Se realizar uma pesquisa no meu site, verá que inúmeras vezes postei a programação seja do WEC, ALMS, IMSA, Le Mans e ELMS. Você sabe melhor do que ninguém o quanto é complicado disseminar o automobilismo no Brasil (já fez várias postagens sobre). Mas até onde sei, não vejo a necessidade de escrever uma “redação” contanto até a roupa que os apresentadores vestirão durante a cobertura da prova.

Não vou negar que estava com a ideia de fazer uma nota nos dias que antecedessem a corrida, um texto falando que a Fox faria isso. Realmente não sei qual sua implicância. Não lhe conheço, não lhe devo nada, sou tão jornalista (com diploma) quanto você, e repito, para mim, quanto mais profissionais divulgarem a modalidade, melhor para o esporte. Sempre fui contra este “loteamento” que alguns setores da imprensa fazem do automobilismo. Esse tipo de mitigação que não leva a absolutamente nada, e não paga minhas contas.

Ao contrário do que pensa, não passo o meu dia odiando você e a Fox. Ódio não paga boletos, dá ruga e nos torna pessoas amargas e vazias e principalmente, sem vida social!

Tenho o site “copia-e-cola” há mais de 10 anos, como forma de hobby, justamente pela falta de notícias sobre o endurance no país, modalidade que você parece ter ciúmes quando alguém escreve. Até consultei os sites da ACO e WEC, e não encontrei absolutamente nada, sobre a obrigatoriedade de citar seu nome ou o da Fox nas postagens. Se souberes em que parte do mídia-kit, aparece isso, serei o primeiro a faze-lo.

Poderia ficar aqui te xingando, reclamando, mas não preciso disso. Não entendo, o porque de tanta mágoa neste coração. Não é você que “trouxe” o endurance para o país? Não é você que deixa categoricamente dito aos quatro ventos que “é um esforço” pessoal? Relaxa! Não se preocupe com o que escrevo, se “copio”, já que recebo das assessorias de imprensa das categorias e equipes, diversos e-mails sobre pilotos, notícias e tudo mais, justamente para serem DIVULGADAS. Ou você está na porta de cada equipe e na casa de cada piloto todos os dias?

Apesar da sua ignorância, agradeço os acessos ao meu site, algo que só me dá despesa, que faço nas horas vagas, mas que para alguns é uma das poucas fontes de informação, sem sensacionalismo como muitos. Um último conselho. Relaxa, dessa vida não levamos absolutamente nada. No final das contas quem tem algo pessoal aqui não sou eu. Se lembras de algo bobo feito em 2017, para “cobrar” só agora, realmente o problema não está comigo. Não sabia que vivíamos em uma ditadura onde apenas uma linha de pensamento é válida? 

Nas mais de quatro mil postagens do site, nunca perdi meu tempo reclamando da “concorrência”, ainda mais com palavreado de botequim. Se eu tivesse o seu trabalho, sua relevância na imprensa, acha realmente que iria me preocupar com um blog? Não. Sabe o que estaria fazendo? Incentivando jornalistas e todo fã e entusiasta do automobilismo, a escrever e divulgar. Existem milhares de espaços dedicados ao futebol. Está na hora do automobilismo voltar a ter o seu espaço. 

Não vou entrar nessa noia de guerrinha virtual. Se fosse no começo dos anos 2000, época do Orkut e com 15 anos a menos, quem sabe. Nessa, você ficará falando sozinho. Chega a ser cômico!

O que você espera do seu carro é o mesmo que espera do automobilismo?

De onde você acha que vem as inovações presentes no seu carro? (Foto: ELMS)

O ser humano é avesso a mudanças. Quem nunca se estressou por ter que fazer um caminho diferente do habitual do que sempre faz para chegar em casa? Ou a mudança da numeração da grade de canais na lista da TV a cabo, que muda depois de dois meses recebendo avisos?

Até o famoso botão iniciar que saiu na versão 8.0 do Windows e voltou agora foi alvo de reclamações, pedições online e tudo o que é de reclamação?

Pois é, somos assim e no automobilismo a história não é diferente. Nos anos 80 quando surgiram os primeiros carros a álcool no Brasil, poucos gostaram da ideia. Lembro que meu pai teve dois, uma Panorama e uma Elba que eu carinhosamente chamava de chaleira. O motivo? A fumaceira que fazia nas manhas frias, quando custava a pegar.

Meu pai não reclamava, os carros atendiam seus anseios. Fato parecido também nos anos 80 e começo dos 90 eram a aversão a carros de 4 portas. Renegados a ser carros de taxi, poucos queria ter, desconsiderando a praticidade.

Hoje todos querem um carro flex e que tenha 4 portas. Mesmo aquela pessoa solteira que usa mais as duas portas traseiras do que o próprio porta malas. Assim é com o automobilismo.

Em 1923, Charles Faroux e Georges Durand tiveram a brilhante ideia de desenvolver uma corrida para ajudar no desenvolvimento dos carros na França. As 24 horas de Le Mans.

Desde então vários componentes oriundos das pistas foram introduzidos nos carros de série. Freios a discos, para brisas mais resistentes, pneus que duram mais e por ai vai. Hoje um consumidor não quer apenas o famoso trio (ar, vidro e direção), ele quer mais. Quer sensores por todo carro, pneus que não furam, sistemas inteligentes e controles de tração.

Aonde estas coisas são desenvolvidas? Exato. Nas pistas. Neste momento se destacam duas categorias que historicamente sempre primaram pelo desenvolvimento de novas tecnologias. O Endurance e a Fórmula 1.

A primeira vem investindo pesado em tecnologias hibridas e no consumo de combustível. Hoje protótipos como o Porsche 919 Hybrid gera aproximadamente 1000cv de potencia com um pequeno motor V4. A F1 ataca com um V6 também com um sistema híbrido.

E é ai que a coisa começa a pegar. Enquanto o WEC optou por este caminho, meio que automaticamente, pelo histórico de inovações, a F1 mais conservadora teve que se adaptar aos tempos modernos.

Todos torcem cada vez mais pelos níveis de tecnologia do WEC, mas cobram e reclamam do atual estágio da F1. Qual o problema da F1 tem um motor pequeno, mas que gera a mesma potencia de um V8 ou V10? Nenhum.

Até com o barulho dos carros a crítica “especializada” reclamou. Para muitos carros de F1 em especifico devem ser barulhentos. Eles são bem barulhentos ainda, mesmo comparados aos carros dos outros anos. São bem mais barulhentos do que a maioria dos carros de rua.

O saudosismo é outro fator da discórdia. Nunca mais veremos mecânicos sujos de graxa, motores desmontados pelos boxes e pilotos sem camisa. Aceita que doí menos. Não nego que nos anos 70 e 80 as coisas eram mais divertidas. Mas não era tanto por conta do tipo de motor.

Pistas e principalmente o regulamento é que fazem o espetáculo. Por que a categoria fica menos emocionante com um domínio da RBR ou Mercedes? Em todas as décadas tivemos equipes dominantes, pessoas reclamando e mesmo assim a coisa funcionava.

Por que a F1 não era chata na época de domínio de Senna e Piquet? Pois é. Talvez o que salve a F1, seja um choque de gestão. Regras mais abertas, pistas mais interessantes, isso independente do motor ser um V6 ou V4 ou até um 1.0.

Nunca mais teremos um V12 queimando toneladas de combustível e talvez seja isso que incomode tanto os “fãs”. Hoje a história é outra, com novas prioridades e anseios mercadológicos.

Nos resta torcer que esta crise que vem afetando a F1 um dia acabe e que não passe para outras categorias como o WEC, Fórmula E, Nascar e Indy, para citar apenas algumas.

Toda essa tecnologia está ai no seu carro. Seja ele fazendo 20 km/l, poluindo menos e principalmente fazendo menos barulho.