Não sou adepto dos textos opinativos. Quem acompanha o BONGASAT dificilmente vai ler minha opinião nas matérias. Levo isso como um mantra, o jornalista deve dar condições para que seus leitores criem um senso crítico. Cabe a eles, formar a opinião, baseada nas informações de uma corrida, piloto ou equipe.
Essa informação deve ser, sem um nacionalismo barato, ou achismos. A informação não deve ser menor do que seu emissor. Digo isso depois de acompanhar os desdobramentos da saída da Porsche do Mundial de Endurance. Ninguém quer ver sua equipe favorita, fora do seu campeonato favorito.
A saída do fabricante alemão acabou caindo como uma bomba, para alguns setores da imprensa mundial, era algo esperado. No Brasil, nossos “especialistas” já taxaram que o WEC estava com os dias contados, fim de uma era e que o endurance tinha morrido. Pior, a salvação seria a sacrossanta Fórmula 1.
Não! O endurance não morreu. O automobilismo sempre foi um clube do bolinha. Nem sempre, os interesses dos fãs, prevalecem sobre os interesses de um grupo de empresários. Nunca podemos esquecer aquele antigo ditado “ganhe no domingo, venda na segunda”.
O interesse das montadoras na Fórmula E é grande, querendo os fãs ou não. É sabido que mais cedo o mais tarde o petróleo vai acabar, os estudos em energias alternativas, sempre estiveram presentes no dia a dia das montadoras. Hoje a energia elétrica é uma realidade, e não apenas um devaneio de algum desenho dos anos 70 e 80.
Na Europa, mais precisamente na Inglaterra o governo anunciou que não vai mais comercializar carros a combustão a partir de 2050. França e Alemanha já deixaram claro que em 2030, as coisas também estarão indo para este nível.
Basta olhar em qualquer fórum, ou roda de conversa. Ninguém usa seu antigo carro, beberrão para ir de casa para o trabalho. O consumidor quer algo econômico e silencioso. Tirando de lado os saudosistas, se hoje um carro não fizer mais de 15 km/l, deixa de ser atraente para o consumidor. Sendo o automobilismo a vitrine das montadoras, evidente que para elas 2050, está logo ali.
Corridas de carros elétricos e silenciosos são o futuro, querendo você fã dos beberrões e barulhentos V12 ou não. Cada vez menos teremos esse “barulho”, o que não é demérito de nada. Quando comprar um carro e reclamar que ele faz muito ruído em marcha lenta, lembre-se da corrida que acabou de assistir no domingo, cobrando ruído.
Voltando ao Endurance. Mesmo hoje a ACO dominando o cenário internacional, a saída da Porsche e posteriormente da Toyota, que já deixou claro que vai embora se não tiver um rival direto, o mundo não vai acabar. As diversas equipes LMP2, LMP3 e GTE, não estarão evaporando no melhor estilo Guerra dos Mundos. Este é o erro da imprensa “especializada”, taxar, cravar, dar como certo algo, baseado unicamente em achismo.
Alguns exemplos. No início dos anos 90, com o crescimento do grupo C, a FIA com o dedo sujo de Bernie Ecclestone, tentou e conseguiu acabar com o campeonato. Mesmo assim não existiu uma interrupção das 24 horas de Le Mans. Foram tempos complicados, com grids modestos e pouco apoio de montadoras. Mas a corrida e a ideologia por trás do endurance seguiram em frente.
No final de 2008, a Porsche e Audi decidiram cancelar seus programas na ALMS. O campeonato americano vivia seus melhores anos, com embates quentes entre as montadoras do grupo VW e a Japonesa Acura. Para 2009, a Audi com seu R15 fez algumas provas, deixando as etapas “regionais” da ALMS apagadas. O que foi feito? O então presidente da série, Scott Atherton, introduziu os LMPC, e os Porsche Cup.
As batalhas épicas entre o Acura da Muscle Milk e o Lola da Dyson Racing, somada a sempre concorrida classe GT2/GTE, fizeram os primeiros anos da nova IMSA, com o descarado favorecimento dos Daytona Prototype, uma corrida sem sentido.
Outro exemplo foi com o crescente aumento dos campeonatos GT3. Se cobrou da ACO um aceite dos carros em Le Mans e no Mundial de Endurance. Mais baratos que os GTE, era o prato cheio, segundo alguns para engordar os grids e estimular novos pilotos. Vendo uma oportunidade de crescimento, foi criado os LMP3, que hoje estão em diversos campeonatos, sendo uma alternativa para equipes que desejam ingressar no endurance.
Em 2012 uma reviravolta com a criação do Mundial de Endurance. Faltando poucos meses para o início da nova série em Sebring a Peugeot, uma das montadoras que idealizou e cobrou um mundial, acabou cancelando seu programa por conta dos custos. Restou Audi e Toyota.
A imprensa “especializada” mais uma vez tentou de todos os meios levar a Audi para a F1. Não conseguiu. Todo final de campeonato afirmando como o último do time das quatro argolas. Até que em 2016, a montadora anunciou sua saída, muito pelo escândalo dos motores a diesel, que está fazendo todo o grupo VW pagar. Foram para a F1? Não. Optaram pela FE. Este ano será a Porsche.
Qual o melhor caminho que a ACO deve tomar? Aceitar que os protótipos DPi, entrem na classe LMP1? Criar regulamentos mais acessíveis? A única coisa concreta é que motores 100% elétricos estão na lista de desejos da indústria, e que impreterivelmente, vai respingar em campeonatos e mundiais.
O futuro do automobilismo será conectado a uma tomada, e em silêncio, o fã e os especialistas gostando ou não.
Não deixe de ler o artigo sobre o Lola B12/69EV do site SpeedHunters.