Quando Stephen King abriu o Arquivo X

23 de novembro de 2016 0 Por Fernando Rhenius

Uma das séries mais icônicas dos anos 90, Arquivo X, ganhou uma 10º temporada no início de 2016. Com seis episódios, tentou apresentar para uma nova geração de fãs, as aventuras de Mulder e Scully.

O primeiro episódio, alcançou uma audiência de mais de 50 milhões de telespectadores ao redor do mundo. Nos EUA, foram pouco mais de 23 milhões. Se a crítica, não foi a mais coerente com a série, muitos acharam fraco o retorno dos agentes do FBI. Outros argumentam que as novas gerações precisam ver as primeiras temporadas para “aprender” sobre a mitologia criada por Chris Carter.

A verdade, e ela continua lá fora, é que Carter, deixou claro que as seis novas histórias, foram feitas para quem é assíduo fã da série. Arquivo X teve seu primeiro episódio exibido em 1993, ao longo de nove temporadas, explorou os mais variados assuntos, sempre com os seres extraterrestres em primeiro plano.

Foram fantasmas, demônios e muita paranormalidade ao longo de 208 episódios e dois filmes. Séries como Supernatural, True Blood, Dexter, Fringe, tiveram forte influência em seus roteiros, baseados em Arquivo X.

Maine? Estamos mesmo em algo escrito por Stephen King. (Foto: Reprodução)

A série foi retratada em outros trabalhos como Os Simpsons, e até em gibis da Turma da Mônica, além de estar incrustada no universo geek.

Em ambiente tão hostil, Stephen King, não podia ficar de fora. Em 1998, King, pediu a Chris Carter a chance de escrever um episódio. King já foi roteirista de várias adaptações para o cinema. Escrever um episódio para Arquivo X, seria um ótimo trabalho. Estariam Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) prontos para combater o mal em sua forma mais visceral?

No dia 08 de fevereiro de 1998, foi ao ar pela Fox nos EUA, Chinga (coloquialismo de origem espanhola). No Brasil ele ficou conhecido como Feitiço. Foi o 10º episódio da quinta temporada, para muitos especialistas uma das mais perigosas e assustadora da série. Em 2013, o jornal The Guardian, incluiu Chinga como um dos 13 melhores de toda a série.

Ambientado em Amma Beach, no Maine, Chinga conta a história de Melissa Turner (Susannah Hoffman), e sua filha de cinco anos Poly Turner (Jenny-Lynn Hutcheson). Melissa, que perdera o marido, Rico Turner um pescador. Acabou cuidando da pequena Poly sozinha. A morte do marido, nunca foi totalmente elucidada, sendo tratada como um acidente de trabalho. Durante a pescaria, o pai de Poly encontrou uma boneca. Como tal brinquedo foi parar ali? Desde que presenteou a filha, sua personalidade foi aos poucos sendo controlada pela boneca.

A comprovação. (Foto: Reprodução)

Poly não percebe, mas está cada dia mais agressiva com a mãe e com todos ao seu redor. O espírito que se apossou da boneca, tem o poder de fazer as pessoas se suicidarem. Foi assim com várias pessoas durante o episódio.

Para “ajudar”, Melissa, começa a ter visões de pessoas que tirarão própria vida. O episódio começa com a boneca causando o pavor em um supermercado. Várias pessoas começam a ter sangue saindo pelos olhos, culminando com o suicídio do açougueiro namorado de Melissa.

E o FBI?

Alheia a tudo este pavor está Scully, que resolve passar o final de semana na Nova Inglaterra, contrariando Moulder que quer lhe passar um caso para investigação. Assim que Scully abastece seu carro, e se dirige ao mercado, acaba sendo fechada por Melissa que sai às pressas do estabelecimento.

Assim que encontra as pessoas feridas, Scully começa a investigar o caso com um policial local. Assim como todos os moradores, o policial acredita que Melissa é uma bruxa e está causando tudo aquilo, botando a pequena filha em perigo. Apenas uma pessoa, uma senhora percebe que todo o mal está na boneca. Ela chega a ser ouvida por Scully, mas acaba se matando após isso, depois de seu aparelho de som começar a tocar uma música antiga.

Melissa começa a perceber coisas estranhas com a boneca. Antes de matar, o singelo brinquedo fala “Vamos nos divertir”. Em outras oportunidades ela indaga, “vamos nos divertir”, além é claro de gostar de músicas antigas. Qualquer semelhança com Christine que também “ouvia” músicas antigas em seu rádio é mera coincidência.

Chinga em seu melhor angulo. (Foto: Reprodução)

O episódio é tenso. As tomadas da boneca, dão a impressão que ela está vida. Os grandes e vidrados, a pele muito branca fazer o brinquedo mais parecer um cadáver. A fotografia do episódio, lembra muito as do filme “A tempestade do século.” Scully percebe que o mal vem da boneca, principalmente depois que a ouve falar. Melissa se tranca em casa com a filha, tentando dar cabo da própria vida, pois acredita que ela é a origem de tudo aquilo.

Com muita dificuldade para arrombar a porta, Scully e um policial, finalmente conseguem entrar. Percebendo a boneca falar, a agente do FBI, acaba botando o brinquedo dentro do microondas. Tempos depois, inexplicavelmente, a boneca é resgatada, totalmente queimada, pronta para se “divertir” de novo.

No universo de Arquivo X, o episódio é considerado um dos mais assustadores e perturbadores. A aflição de ver aquela boneca ali, falando e a cenas de morte mostram o DNA de Stephen King. Muitos críticos esperavam mais de King neste trabalho. Para quem acompanhava a série, valeu cada minuto a frente da tv.

Em termos de audiência, foi visto por 21,33 milhões de pessoas nos EUA, um bom número frente aos episódios mitológicos da série. Ter Stephen King, escrevendo para Arquivo X, no auge da série fez muito bem para a audiência.

Produção

Curiosamente Chris Carter e Stephen King, nunca se encontraram ao vivo para discutir o projeto. Arquivo X tinha como local de gravação Vancouver no Canadá. Apenas os planos externos foram gravados no Maine.

Uma possível capa.

O interesse do mestre em escrever para a série, partiu de uma conversa que King teve com David Duchovny. Na oportunidade esboçou a vontade de escrever para outra série dirigida por Chris Carter (Milenium). Com o andar das negociações, e Arquivo X fazendo mais sucesso, King decidiu abraçar o novo projeto.

Vários episódios da série não tiveram a participação efetiva de Mulder e Scully. Dos exemplos que King enviou para o produtor da série, prevaleceu o que separaria os agentes. Carter explicou na época que “Stephen não estava acostumado a escrever para Mulder e Scully.” Com as adaptações os dois dividem a autoria do episódio.

A empolgação por dirigir algo escrito pelo mestre do terror, contagiou a produção. Kim Manners, diretor do episódio, ressaltou que o roteiro teve poucas alterações por parte de Carter, King pegou o espírito da coisa. “Eu estava muito animado para dirigir uma peça de Stephen king, e quando tudo foi apresentado, a essência do autor estava lá, as porcas e parafusos eram dele.”

Curiosidades

Foi neste episódio que Mulder começou o hábito de jogar lápis no teto do seu escritório. Esse costume foi retratado diversas vezes e no filme de 2008. Ele também explica como comprou o pôster “I Want to Believe”, uma das marcas da série.

O livro que está na cabeceira da cama de Scully no hotel, intitulado: “Affirmation For Women Who Do Too Much” by Arianna Carrillo, com uma sugestiva bruxa na capa, é uma sátira, por conta do ceticismo de Scully em eventos inexplicáveis.

A boneca viva. (Foto: Reprodução)

Um dos melhores diálogos da série, também estão presente neste episódio. Enquanto falavam ao telefone, Mulder incita Scully a abrir sua mente, e aceitar que pode estar enfrentando com alguma entidade no Maine.

Mulder: Parece ser magia ou bruxaria.

Scully: Não acho que seja bruxaria ou bruxaria. Já investiguei e não há provas que justifiquem essas suspeitas.

Mulder: Bem, talvez você não sabe o que está procurando.

Scully: Como evidências de magia negra, ou xamanismo, adivinhação, bruxaria, ou outro tipo de prática pagã ou neo-pagã? Amuletos, cartas, patuás, talismãs, sinais de magia, ou rituais associados com o culto? Santeria, vudu, macumba, ou qualquer magia branca ou negra?

Mulder: Scully.

Scully: Sim.

Mulder: Case-se comigo.

Scully: Tenha em mente algo mais útil.