Dica de leitura: “Vida de Escritor” de Gay Talese

16 de abril de 2021 0 Por Fernando Rhenius

O jornalismo vem passando por várias transformações. Na época da máquina de escrever as “lives”, muita coisa mudou. Leitura obrigatória para estudantes de jornalismo e quem quer se aprofundar na profissão, Gay Talese é um ícone. 

Natural de Ocean City, Nova Jersey, Talese tem atualmente 89 anos e continua escrevendo. É considerado o pai do jornalismo literário, gênero que vai além da informação factual e mistura elementos literários à notícia, como aprofundamento dos personagens e detalhamento das cenas. 

Fez fama escrevendo nos jornais The New York Times e na revista Esquire nos anos 60. Entre suas obras estão livros como Voyer  e Fama & Anonimato. O livro Vida de Escritor é considerado por muitos especialistas uma biografia  não propriamente dita, mas dicas sobre o ofício da escrita. Uma obra semelhante é Sobre a Escrita de Stephen King, que também conta um pouco sobre a profissão de escritor e fatos sobre a sua vida. 

Confira a sinopse de “Vida de Escritor” de Gay Talese

Vida de escritor não é uma autobiografia convencional. É um livro sobre o ofício da escrita, e os reveses que acometem aos que por ele se aventuram. Entre as agruras para encontrar uma boa história é que Talese nos deixa divisar sua vida e, especialmente, sua carreira.

Os dramas começam no jornalzinho da faculdade (de baixa reputação) que cursou no Alabama. Prosseguem nos dez anos que trabalhou como repórter do New York Times, no qual entregava suas matérias na undécima hora, e sempre reclamava das alterações e cortes feitos por redatores. E se tornam mais complexos nas revistas com as quais passou a colaborar.

Uma delas foi a prestigiadíssima New Yorker. Talese conta como passou meses apurando a história de Lorena Bobbit, que, num surto de fúria, cortou com uma faca de cozinha o pênis do marido. Ele se esfalfou para reconstituir a noite da agressão e tentou entrevistar todos os envolvidos no episódio. Enfurnou-se então num quarto e escreveu uma longuíssima reportagem, enviou-a à revista e, já de manhã, extenuado, foi dormir. Acordou à tarde com um fax na porta: a diretora da revista recusava a reportagem, e sugeria que Talese fizesse um pequeno livro sobre o crime. O escritor bem que tentou, mas tal livro não passou de um arremedo.

Vida de Escritor começa e termina com uma história de derrota ainda mais doída. Talese passou anos viajando ao redor do mundo atrás de Liu Ying, uma atacante da seleção chinesa de futebol. Na final da copa do mundo de 1999, disputada entre os Estados Unidos e a China, ela perdeu o pênalti decisivo, que daria a vitória a seu país. O drama da jovem espelha a frustração de Talese, que não consegue fazer nem sequer uma reportagem sobre Liu Ying.

Septuagenário, Gay Talese poderia ter feito um livro de memórias complacente. É sem qualquer condescendência consigo mesmo – mas também sem se comprazer no sofrimento -, no entanto, que ele demonstra como o fracasso é inerente à profissão. Ao construir Vida de escritor em torno de personagens anônimos ou menores, o autor na prática se solidariza com eles. E dá uma lição que só a experiência e a sabedoria propiciam: mesmo na autobiografia de um jornalista, o que importa são os outros.

Ficha técnica:

Título original: A writer’s life

Tradução: Donaldson M. Garschagen

Páginas: 512

Formato: 16.00 X 23.00 cm

Peso: 0.773 kg

Acabamento: Livro brochura

Lançamento: 04/05/2009

ISBN: 9788535914269

Selo: Companhia das Letras

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