Resenha – A Hora do Lobisomem de Stephen King

20 de setembro de 2017 0 Por Fernando Rhenius

(Foto: Fernando Rhenius)

A figura do Lobisomem está incrustada na nossa cultura há vários séculos. Sua origem remete à mitologia grega sendo Lykos (lobo) e Anthrõpos (homem). Desde então a imagem do homem que se transforma em lobo durante noites de lua cheia se tornou algo comum, na literatura, cinema e nos desenhos.

São vários autores que narram à carnificina provocada pelo animal. Stephen King não poderia ficar de fora, adicionando uma pitada de terror a algo que vaga pelas noites causando morte.

Durante a Convenção Mundial de Fantasia em 1979 nos EUA, King estava concorrendo nas categorias de melhor livro e melhor antologia com A Dança da Morte e Sombras da Noite. Para promover o autor, foi sugerido por um dos editores, que King criasse uma história em 12 capítulos, onde cada um representasse um mês do ano. Tinha apenas uma regra, não exceder 500 palavras.

“Mas quando os dedos gorduchos tocam no caixilho frio da janela, ela vê que não é um homem; há um animal lá fora, um lobo enorme e peludo, as patas da frente apoiadas no parapeito, as de trás encolhidas na neve que se acumula naquele lado da casa, aqui nos arredores da cidadã”. Página 25.

Mesmo ultrapassando o limite de palavras, King acabou abraçando o projeto. Em 1983 nascia A Hora do Lobisomem (Cycle of the Werewolf). As ilustrações ficaram a cargo de Bernie Wrightson, que foi o responsável pela arte de A Dança da Morte, Creepshow e Torre Negra, Buick 8 em suas edições americanas. Foi o criador de “O Monstro do Pântano”, além de trabalhar em séries como O Homem Aranha, Batman e Os Justiceiros. No cinema teve envolvimentos artísticos nos filmes Os Caça Fantasma, Terra dos Mortos, além de O Nevoeiro e Creepshow também de Stephen King.

A história se passa na provinciana Chester´s Mills, obviamente no Maine. Com um povo simples, Chester´s Mills, tem todos os elementos que precisam estar em uma cidade do interior. O xerife que acredita resolver todos os problemas, a barbearia em que todos sabem das fofocas cotidianas, a mulher sonhadora, esperando o amor da sua vida, e todos acabam na igreja nos finais de semana.

“A porta que leva para a noite de verão lá fora se abre e deixa entrar um raio intenso de luar. Ele acha que o café está deserto porque a Besta supostamente anda por ai na lua cheia (…) Página 55.

E então começa a carnificina. O Lobisomem não escolhe as vítimas por cor, raça ou credo. Ele apenas mata, precisa se alimentar para se manter forte até a próxima lua cheia. As narrativas divididas em meses são interessantes. Sendo um livro pequeno (149 páginas), se espera que a caracterização dos personagens poderia ser fraca, não é.

Todos têm uma ótima apresentação dentro da história. Como é de costume, King sabe dar detalhes de cada um, não só os predestinados a ficar cara a cara com o homem lobo. Mulheres, filhos, irmãos e namoradas. O leitor vai conseguir traçar o perfil de cada um durante leitura. Alguns que não estavam na mira do lobo, poderiam ter sido pegos. Atire a primeira pedra quem não gostaria que a mãe do pequeno Marty Coslaw, estivesse na alça de mira da besta? Mesmo tendo uma certa continuidade durante os 12 meses, cada capítulo tem vida própria.

“Então o grito dos porcos começa a oscilar e parar. Sim, eles param. Um a um, eles param. Os Guinchos morrem em sons roucos e sangrentos de gargarejo. A Besta uiva novamente, o grito tão prateado quanto a lua. Elmer vai até a janela e vê uma coisa, ele sabe dizer o que, desaparecer na escuridão”. Página 89.

Com o passar dos meses o leitor acaba descobrindo quem é o lobo (King deixa bem claro). Isso não faz a leitura dos meses faltantes, chatas ou desnecessária. A partir deste ponto ficamos na expectativa de como o lobo vai agir, quais os planos para uma fatal vingança.

A Hora do Lobisomem não é um dos melhores trabalhos de King, mas está longe de ser algo simples e limitado. É um ótimo livro, tem o DNA do autor em cada página, seja no estilo dos personagens, ou no desenrolar da história. O dilema do homem que se transforma no monstro é muito bem retratado pelo autor. Em determinados momentos, podemos até compadecer e se solidarizar com o drama vivido pela pessoa, mas não se engane. O lobisomem não teria a mesma compaixão por você.

Biblioteca Stephen King

Biblioteca SK. Três títulos até agora. (Foto: Fernando Rhenius)

A hora do Lobisomem é o segundo volume da “Biblioteca Stephen King”, série de livros raros ou inéditos no Brasil, lançada pela Suma de Letras. O primeiro volume foi Cujo. Em comemoração aos 40 anos da publicação de O Iluminado no país, a editora lançou uma edição com conteúdo inédito. A Incendiária é o próximo livro a ganhar vida, sem data de lançamento.

Sendo um diferencial da biblioteca, A capa do livro é dura, com as formas do lobisomem em alto relevo, a gramatura das páginas também é superior, bem como as ilustrações originais coloridas. A Suma convidou quatro ilustradores brasileiros para criar em cima do ponto do livro que mais lhe causou impacto. Cada ilustração extra é acompanhada de uma ficha técnica do autor e como ele entrou no universo de Stephen King.

A tradução do livro é de Regiane Winarski, responsável por outros livros do mestre como: IT, Joyland, Trilogia Bill Hodges, conteúdo extra da edição de O Iluminado, Bazar dos Sonhos Ruins e o próximo lançamento do autor no Brasil, Belas Adormecidas.

Adaptação para o Cinema

Em 1985 foi lançada a adaptação para o cinema do livro intitulada Silver Bullet. No Brasil ficou conhecido também como Bala de Prata além do nome idêntico ao do livro. Com roteiro de Stephen King o filme não fez o sucesso esperado, caindo no ostracismo. Mesmo tendo King por trás, a temática de Lobisomem já estava datada no início dos anos 80. 

Serviço

Sinopse oficial:
O primeiro grito veio de um trabalhador da ferrovia isolado pela neve, enquanto as presas do monstro dilaceravam sua garganta. No mês seguinte, um grito de êxtase e agonia vem de uma mulher atacada no próprio quarto. Agora, a cada vez que a lua cheia brilha sobre a cidade de Tarker’s Mill, surgem novas cenas de terror inimaginável. Quem será o próximo? Quando a lua cresce no céu, um terror paralisante toma os moradores da cidade. Uivos quase humanos ecoam no vento. E por todo lado as pegadas de um monstro cuja fome nunca é saciada. Um clássico de Stephen King, com as ilustrações originais de Bernie Wrightson.

Ficha técnica:
Título original: A HORA DO LOBISOMEM
Capa: Alceu Chiesorin Nunes 
Páginas: 152
Tradutora: Regiane Winarski
Formato: 16.00 x 23.00 cm
Peso: 0.388 kg
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 20/07/2017
ISBN: 9788556510402
Selo: Suma de Letras
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Referência:
KING, Stephen. A Hora do Lobisomem. Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2017. 149 p.