24 horas de Le Mans–A vitória de um carro só

Para entendermos a vitória da Audi este anos temos que voltar para 2010 e pensar um pouco sobre o trunfo triplo da equipe alemã. No ano passado os carros da Peugeot estavam mais velozes e só não ganharam por conta da pouca durabilidade. Em nenhum momento os três Audi esboçaram qualquer tipo de luta e acompanharam de longe um a um os Peugeot sucumbirem. Algo precisava ser feito.

Assim em 2011 a marca construiu seu primeiro protótipo fechado desde 1999 e além de vencer queria convencer. Desde os primeiros testes tanto em Sebring quanto em Le Mans e em sua corrida inaugural em SPA era sabido que o que faltou no R15 sobrava no R18 velocidade. Velocidade que veio junto com um consumo maior que do seu antecessor mas que pelo talento de seus pilotos e aerodinâmica do carro poderia ser anulada em Sarthe. E assim foi.

Infelizmente corrida é corrida e ninguém esperava os acidentes com os carros alemães. Eles até poderia batem ou ter um pneu furado, mas serem totalmente destruídos isso realmente ninguém esperava. Até por que os dois carros que se acidentaram eram as esperanças da Audi para a corrida. O carro #3 com McNish e Kristensen e o #1 com Mike Rockenfeller e Romain Dumas.

Podemos apontar um culpado nos dois acidentes? Mesmo as imagens mostrando claramente que as Ferrari estavam no lugar errado faltou um pouco de prudência dos dois pilotos. Seria compreensível se estivessem na última volta da última hora de prova, mas em momentos em que a corrida estava tranquila foi desnecessário. Com essa perda dupla todas as esperanças se voltaram para o carro #2 de Marcel Fassler, André Lotterer e Benoit Treluyer, que souberam corresponder e foram sublimes durante toda a prova. Uma vez ou outra uma escapada ou um ultrapassagem mais perigosa mas nada que pudesse ser controlada.

Mesmo com mais paradas nos boxes do que o segundo colocado (foram 31 da Audi contra 28 do Peugeot) o trio soube aproveitar do bom carro que tinham. Mesmo durante os chuviscos nas horas finais aonde o ritmo tinha que ser mais prudente não deixaram o primeiro lugar escapar de suas mãos. Assim como diz o slogan da Pirelli “Potencia não é nada sem controle” o trio soube explorar todo o potencial do carro mesmo ele tendo um consumo elevado.

A diferença de míseros 13 segundos para o Peugeot #9 também demostrou o bom rendimento do carro Francês, que conseguiram espantar o fantasma do ano passado e todos os 908 completaram a prova até o da equipe Oreca. A Audi provou que aquela máxima de que carro rápido não vence Le Mans pelo menos este ano foi por água e deixa os “chatos” por segurança e carros mais seguros com a boca bem fechada. Se fosse um F1 McNish teria sobrevivido? Rockenfeller que fico em estado grave voltaria a pilotar? Hoje se pode dizer que um protótipo seja ele aberto ou fechado estão em um nível superior ou de igualdade com um F1. O que poderia acontecer é retirar os fotógrafos daquela área aonde McNish se acidentou. Deu mede de ver os profissionais se arriscando. Como recompensa fomos brindados com belas imagens do carro sendo destruído.

Os outros protótipos tiveram um bom desempenho enquanto estavam na pista. Deu pena de ver o Pescarolo batendo nas horas finais da corrida. Para mim ele é o vencedor moral da prova depois das dificuldades enfrentadas ano passado e com um carro de 2009 esteve sempre em primeiro lugar entre os carros movidos a gasolina. A luta contra os carros da Rebellion mostraram que mesmo com recursos limitados Pescarolo tem o que poucos conseguem mesmo estando a anos no endurance. Experiência e visão de corrida. Ou algum outro construtor teria vontade e empenho de montar uma estrutura vencedora em menos de 1 ano?

Infelizmente as medidas para igualar os carros a Diesel e gasolina não surtiram o efeito esperado e nenhum protótipo movido a gasolina chegou perto dos Audi e Peugeot. O mais próximo o Rebellion #12 chegou a 16 voltas do líder. Outro bom resultado foi o Aston Martin da equipe Kronos que mesmo com problemas acabou a corrida com a mecânica em ordem. Muito ao contrário dos Aston de Fábrica que pararam com 1 hora de prova. A equipe pega pela inovação, não que isto fosse problema já que todo carro não começou ganhando provas, e os poucos que conseguiram esse feito rodaram muito antes. Apenas para citar o ganhador da corrida a equipe alemã fez duas seções de 33 horas e acertou todos os erros e problemas. Será que a Aston fez isso? Ou apenas se valeu da “experiência” para competir. Tanto que David Richards diretor da equipe pediu publicamente desculpas em seu Twitter para os fãs da marca. Atitude rara em um mundo que nem sempre se ouve os torcedores quando raramente os compradores.

Outro exemplo de que o desenvolvimento aprimora a coisa é o Oreca híbrido da Hope Racing. A equipe que por várias vezes ficou nos boxes por horas foi até onde o carro aguentou mostrando que é viável o uso deste tipo de motorização.

Os dois primeiros colocados na classe… quem ganhou foi a Nissan

Já na classe LMP2 a Nissan mostra sua força em seu primeiro ano no endurance. Os dois primeiros colocados tinham o propulsor Japonês. A surpresa se deu pelo fato da equipe vencedora ser a Graves Motorsport com um protótipo Zytec 2009. O Segundo colocado Signatech com um Oreca 03 era o vencedor nato da categoria pois foi bem em todos os testes além de ter um carro mais novo. Assim a Nissan prova que consegue entregar um motor vencedor independente do protótipo utilizado.  O terceiro colocado o Lola Coupe da Level 5 motorsport consegue um fantástico resultado levando em conta seu histórico este ano. Tanto em Sebring quanto em Long Beach o carro chegou a ser mais lento do que os protótipos da Fórmula Le Mans. Em SPA teve o carro completamente destruído e conseguiu reconstruir a tempo de competir. Seu desempenho foi satisfatório mesmo chegando a 7 voltas do Zytec vencedor. A decepção da categoria sem dúvida foi as equipes que competiram com o modelo HDP ou Acura.

A Strakka Racing que foi vencedora o ano passado na classe LMP2 não completou a prova com problemas enquanto a RLM do brasileiro Tomas Erdos chegou em 4º a 12 voltas do vencedor da classe. Mesmo assim nenhum dos dois carros não tiveram desempenho para lutar de igual para igual com os modelos da Oreca equipados com o propulsor Nissan. O “drama” da Honda que não conseguiu fornecer peças para a equipe Hightcroft ainda durante a preparação parece que resbalou nas outras equipes. A diferença é que elas tinham mais dinheiro para pelo menos participar da corrida, mas pecaram no fraco desenvolvimento do carro. Outro vencedor da classe é o #44 Extreme Limite e último colocado dos carros que completaram a prova. Mesmo a 108 voltas do líder a equipe que quase não larga mostrou competência chegando ao final da prova.

Belo presente para comemorar os 10 anos da primeira vitória em Sarthe

A classe GTE-PRO que sempre foi sinônimo de disputas acaloradas teve sim sua doze de emoção mas a ausência dos Porsche na linha de frente abriu caminho para a  Corvette obter sua primeira vitória em Sarthe desde que passou da GT1 para a GT2 em 2010. A equipe que não participou de nenhum teste coletivo se isolou em solo americano e assim ficou até poucos dias antes da corrida. Duvidou-se muito se a equipe iria corresponder a expectativa e principalmente a concorrência da nova Ferrari e BMW. Desde o começo da corrida o #74 não encontrou dificuldades para obter a liderança e travou uma bela disputa com a Ferrari #51 e os dois BMW. O brasileiro Augusto Farfus esteve muito tempo na liderança da classe, mas um pneu furado e depois problemas com o carro acabaram com a chances de vitória.

O outro brasileiro Jaime Melo que competia a Ferrari da Luxury Racing esteve sempre perto dos primeiros colocados mas acabou não completando a prova. A equipe que não tinha a estrutura da AF Corse além de ser sua primeira participação em Sarthe não obteve sucesso. Melo levou praticamente o carro nas costas até a quebra do mesmo. A decepção da prova entre os carros da categoria PRO foi a ausência da Porsche entre os ponteiros. O melhor 911 foi o da equipe Felbermayr-Proton que apenas chegou e isso a 3 voltas do líder da classe. Mesmo com boas equipes a Porsche não encontrou a velocidade que precisava para vencer na classe. Esta falta se esperou muito da nova Ferrari 458 que só não venceu por conta da superioridade do Corvette.

A boa noticia da classe foi a chegada de pelo menos 1 Lotus Evora mesmo que a 60 voltas do líder Audi e 19do Corvette vencedor da classe. A equipe se esforçou em informar que a prova seria uma espécie de treino de luxo para os dois carros. O treino parece que valeu e um deles completou a prova, porém falta muito para o Evora fazer frente a medalhões como Porsche, Ferrari, BMW e Corvette.

Vitória dupla da Corvette

Já entre os amadores da GTE-AM a equipe Larbre Competition que venceu Le Mans ano passado com Salen na finada GT1 poderia ter inscrito seu carro na GTE-PRO que teria feito o mesmo sucesso. A vitória surpreendeu muitos que apontavam a Porsche da Flying Lizard como potencial vencedor. Assim em segundo chegou o Porsche também da Larbre e fechando o pódio o Ford GT da equipe Roberston Racing. O time americano que entrou sem nenhuma ambição acabou  chegando em terceiro. Se dúvida um belo começo.

O que chamou a atenção este ano foi o número elevado de abandonos em um total de 28. Em uma prova sem chuva os abandonos que não foram só problemas mecânicos se deram por graves acidentes. A média baixa de idade pode ter contribuído para essa carnificina sem sangue, mas acende o farol amarelo para a organização da prova conter o ímpeto dos pilotos. A prova são os acidentes da Audi que foram mais por conta da afobação de pilotos que achavam poder resolver a corrida como se a mesma fosse uma prova sprint da FIAGT que tudo se resolve em 1 hora. Muitos bons pilotos não tiveram sequer a chance de participar da prova como é o caso do super-campeão Tom Kristensen. Mesmo assim aquela tradicional calmaria do final da prova deu lugar a uma disputa intensa que a muitos anos não se via.

Espero que com a criação do campeonato mundial de Endurance ano que vem possamos ver mais disputas com mais marcas com chance de vitória. A Audi está de parabéns pela competência e sangue frio de não se deixar intimidar pelo “batalhão” azul em seu retrovisor. Parabéns !!!
O melhor e pior da prova. (clique para ampliar).

Segurança: Todo o aparato tanto dos carros quanto do circuito foi posto a prova. Nota 10 para a organização que conseguiu reconstruir a barreira de pneus nos dois acidentes envolvendo a Audi. Para muitos que criticaram o uso da barbatana de tubarão por parte das equipe dizendo que os carros ficariam lentos acabou dando com a língua nos dentes. Se não tivessem tal asa o acidente poderia ter sido bem mais grave.

Quifel ASN Team: A equipe portuguesa que este ano compete na LMP1 não teve uma boa estreia em Sarthe. Com problemas no motor que simplesmente se deslocou provocando uma rodada e consequentemente abandono. Estava muito bem na corrida e lutava de igual para igual com a Pescarolo e a Rebellion.



Motores japoneses: Grande destaque positivo e negativo. Toyota e Nissan superaram fácil os blocos Judd nas classes LMP1 e 2. Não foi páreo para os motores a Diesel, mas se mostraram confiáveis e rápidos. Ao contrário o bloco Honda não foi páreo para seus contemporâneos o que causou espanto pois venceu Le Mans ano passado e sempre foi rápido na LMS e ALMS. Este ano por conta do tsunami o fornecimento de peças foi o principal motivo por esse atraso no desenvolvimento. Mesmo com esse problema a “esquadra” japonesa nunca entrou em Le Mans para brincar.


A volta de Pescarolo: Nem sempre rios de dinheiro fazem de uma equipe vencedora. Depois de um 2010 indefinido a volta de uma das mais tradicionais equipes do endurance foi cheia de pompa com a vitória em Paul Ricard. Depois de bons tempos nos testes e na prova de SPA a equipe ia bem até que nas horas finais o carro bate e dá adeus as chances da equipe ser a primeira entre os modelos a gasolina. Para mim Pescarolo foi o vencedor moral da corrida.
Peugeot e a “vitória”: Tudo bem que o segundo lugar para muitos é o primeiro perdedor, mas no caso da Peugeot o fato de completar a prova com os 4 carros é um grande feito. Depois do vexame do ano passado e de várias provas aonde o carro era rápido, mas não completava parece que faz parte do passado. Este ano o fabricante francês provou do remédio dos outros anos. Um concorrente mais rápido do que ele. As outras provas do ILMC prometem.


O desempenho da Porsche: Muitos ficaram espantados com o comportamento das equipes que competiram com o tradicional carro que por tantas vezes venceu a prova. Em nenhum momento os carros foram páreos para Corvette, Ferrari e BMW. O melhor resultado é um 4º lugar a 3 voltas do vencedor da GTE-PRO. Este desempenho era esperado para a nova Ferrari 458 que parece ter evoluído mais rápido. Uma pena pois corrida sem Porsche lutando por vitória não é a mesma coisa.

Hope Racing: A estreia do modelo híbrido não foi uma das mais badaladas pois o mesmo não terminou a prova. Mesmo assim Le Mans continua sendo um celeiro de ideias inovadoras, mesmo que em um primeiro momento não possam ser viáveis. Quem dera a F1 fosse um pouco assim.



Oreca e OAK Racing: As duas equipes que este ano também viraram construtores. Enquanto a Oreca conseguiu vender 4 do seu modelo 03 além de fornecer carros para a Fórmula Le Mans a OAK decidiu por 4 carros de forma “oficial” para chamar a atenção de futuros compradores. Enquanto dos 4 apenas 2 Oreca completaram a prova. Os da OAK apenas 2 completarem. Independente dos problemas com pneus e motores os dois fabricantes dão um passo além fornecendo equipamentos para futuras equipes contribuindo para popularizar o endurance.


Os brasileiros: Com três representantes de muito boa qualidade estávamos bem representados. Tanto Jaime Melo quanto Augusto Farfus tinham condições de ganhar em sua classe, mas por intemperes acabaram abandonando. Já Tomy Erdos não tinha um carro para lutar pela vitória depois de vários anos sendo favorito. A RML terá muito trabalho para voltar a ser uma equipe favorita ainda mais depois da ascensão da Nissan.



Lotus e Aston Martin.

Os esteantes mais badalados desta edição da prova. Enquanto a Lotus fez a lição de casa treinando conseguiu completar a prova com pelo menos 1 carro. Já a Aston Martin não passou da primeira hora de corrida tendo os dois carros quebrando na mesma volta. Tanto uma quanto outra têm que trabalhar muito para pelo menos terminar as corridas de forma satisfatória.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *