12 horas de Sebring: Resultados e pensamentos de uma corrida aonde os antigos superaram os novos protagonistas.

Tinha um texto pronto em minha mente durante as duas últimas horas da corrida de Sebring. Podia ter começado com frases de efeito como “Peugeot imbatível” “melhor corrida dos últimos anos” ou então “vitória coroa o competente 908”. Isso com certeza lerei em poucos sites que cobriram o evento. Se fosse atribuir algo de efeito para o título deste texto iria por algo do tipo “Duelo de gerações” ou “é dos velhinhos que elas gostam mais”.
Foi mais ou menos assim que senti as 12 horas de Sebring desde ano. Os carros de 2010 mesmo com restrições foram competitivos e continuarão na disputa por vitórias tanto na LMS quanto ILMC. A vitória do Peugeot 908 da Oreca confirma isso e joga um ponto de interrogação nos novos e badalados Peugeot 908 oficial e Ferrari F458 Itália.
 

Peugeot manteve o domínio em Sebring mais o carro vencedor deveria ter sido outro…

Muitos podem dizer que o 908 oficial só não ganhou pelos percalços que teve durante a corrida como o toque do #7 com o Audi #2 ou os problemas tanto com a carenagem quanto a escapada do #8. Realmente nas primeiras horas os dois carros franceses foram inquestionáveis tendo a corrida nas mãos, mesmo por que 12 não são 24 e em trajetos “curtos” eles são superiores aos rivais alemães. Porém o trio Lapierre/Duval e Panis soube guiar com maestria e mesmo com as restrições de potência impostas para os carros de 2010 aproveitou muito bem uma particularidade das provas americanas: a bandeira amarela. Presente em grande quantidade nas primeiras horas chegou a ser irritante a demora por causa de acidentes simples ou corriqueiras escapadas onde o piloto deixava o carro morrer.
Mas voltando a P1. A Audi sabia que não teria as chances com um R15 tão limitado e também não esperava contar com o fator “Capello” que por coincidência ou não cometeu o mesmo erro de se enroscar com um Peugeot na última prova da ALMS ano passado em Road Atlanta. Tanto Kristensen quanto McNish devem estar se perguntando se não era mais fácil ter apenas dois pilotos por carro.
A dupla do #2 bem como o trio vencedor de Le Mans do ano passado Bernhard/Dumas e Rockenfeller no carro #1 fez o que podia com o R15, por muitas vezes se aproveitando do tráfego outras pelo desgaste de pneus dos franceses, mas de fato nunca chegaram a ameaçar a liderança principalmente depois de dois pneus furados do #1 e do toque do #2. O objetivo para esta corrida sempre foi claro, roubar o máximo de pontos possíveis dos rivais para estrar o R18 com a menor diferença possível. Este sim, com forças para lutar de igual para igual com o 908.
Os outros carros da classe P1 ficaram aquém da expectativa com exceção do Acura da Hightcroft que surpreendeu tanto na pista, quanto nos bastidores. Na pista, seus pilotos Brabham/Franchitti e Pagenaud mostraram sangue frio para levar ao limite um carro pouco testado que foi entregue a equipe poucos dias antes da corrida. Já nos bastidores a perda do patrocínio por parte da Tequila Patron fez a equipe pensar seriamente em fechar as portas. Nestas horas me pergunto se a Patron não se arrependeu de pôr todo o dinheiro da equipe de Scott Sharp que não fez nada durante a corrida a não ser a primeira a destruir a nova F458.
A equivalência imposta pela ACO aos motores a gasolina e Diesel realmente aconteceu? É cedo para dizer que sim, mas o Acura conseguiu escapar das investidas do Peugeot #8 na reta final da corrida, talvez se o tráfego não fosse tão forte a coisa teria sido diferente, mas o Diesel ainda vai ser um ponto determinante e os carros que estiverem equipados serão sempre favoritos. Esperou-se mais do Aston Martin da equipe Muscle Milk, pois tinha o apoio extraoficial por parte da fábrica, não conseguiu ameaçar ninguém e parou com problemas mecânicos completando apenas 6 horas de prova. Outra decepção foi por parte da OAK Racing que não completou a prova com seus dois carros. O “melhor” colocado foi o #15 pilotado por Lahayne/Moreau e Ragues que parou com pouco mais de 8 horas e meia de prova e o #24 com poucas 4 horas e 39 minutos por danos no motor. Também era esperado mais do #12 o Lola Toyota da Rebellion Racing. Fez uma corrida burocrática terminando em 7º a 12 voltas do líder um desempenho um pouco pior do que o obtido pela Dyson Racing, com seu também Lola Mazda, que ficou a oito voltas.
 

Vergonhoso resultado para todos os carros da classe P2

A classe LMP2 vive um paradoxo. Enquanto na Europa foi a salvação de várias equipes que não tinham dinheiro suficiente para entrar na P1 nos EUA se tornou uma grande decepção. Dos quatro carros inscritos todos foram mais lentos dos que os carros da categoria FLM, GT2 e até GTC. Desses, apenas um era modelo 2010 o # 43 da equipe OAK. O “vencedor” foi o Lola B11 de longe o mais belo protótipo na prova da equipe Level 5 Motorsports que completou a prova a 32 voltas do líder. Aliás, todos os carros da P2 tiverem problemas de confiabilidade mostrando que precisam evoluir para evitar a vergonheira de terminar atrás dos carros da GT2.

Carros da FLM surpreenderam muitos pela velocidade e durabilidade

 
Na categoria FLM o vencedor foi o #36 da equipe Genoa Racing USA do trio Peterson/Cameron e Gausch que terminou a 20 voltas do líder. Em segundo o Oreca #005 da Core Autosport do trio Bennett/Montecalvo e Dalziel.
 
Entre os GT’s a máxima de que os velhos superaram os novos se manteve. A pole da F430 da AF Corse que acabou em 5º comprovou que o modelo não é tão obsoleto como a Ferrari e as equipes cantavam em voz alta ano passado. O trio principalmente quando Pierre Kaffer e Maria Bruni estavam no volante foram competitivos o tempo todo. Já Fisichella teve um desempenho aquém do esperado. Se esperou mais dos Porsche da equipe Flying Lizard principalmente do #45 que “decolou” em cima de um dos Corvettes ainda no começo da prova e induziu a F458 de Scott Sharp a conhecer o muro. Mesmo com melhorias em relação ao ano passado a Porsche precisa se impor e pode fazer mais do que um 6º e 7º.
 

Dobradinha da BMW mostra maturidade da equipe

 
Sobre o acidente do Porsche a equipe alegou que o “culpado” foram as ondulações da pista de Sebring. Não é segredo que o péssimo estado da pista também é uma de suas marcas registradas, assim como em grande parte das pistas norte americanas. Isso, de certa forma, ajuda a testar o carro principalmente suspenção e pneus, todas as equipes sabem disso. Estranhamente a Rizzi favorita a vitória entre os GTs e que também estreou modelo novo teve um desempenho que a muito não se via. Todos os seus pilotos ficaram aquém do esperado. Jaime Melo, Mika Salo e Vilander estavam mais quebrados que o carro. O brasileiro chegou a liderar por um bom tempo, mas o desempenho foi caindo a ponto do carro não conseguir pegar por problemas elétricos. Estranhamente a Risi foi a primeira equipe a testar o carro ainda na Itália antes de qualquer outro time. Isso já seria uma vantagem, mas o que se viu foi um carro cambaleante e decepcionante. Com muito custo, terminou em 11º em sua classe a frente de outra F458 da equipe da Tequila Patron o que não deve ser encarado como mérito já que nenhuma completou a prova. A Rizzi tem meios e pessoal para reverter este quadro. O que falta foi rodar com o carro, mas ver tanto Jaime Melo como Toni Vilander reclamarem de problemas físicos não deixa de ser curioso.
 
Sem problemas a BMW fez dobradinha com o #56 em primeiro e o #55 em segundo dando um pódio ao brasileiro Augusto Farfus, que só não venceu porque teve um toque com um dos Corvette faltando menos de 2 horas para o final. Pena mas mostra que o título do ano passado não foi mero acaso e a escolha da BMW de investir se dinheiro em uma categoria competitiva ao invés da jogatina da F1 deu resultado. Os planos para 2012, além do endurance, são por um carro na DTM e o que tudo indica será um forte competidor.
Desempenho que se viu da equipe Corvette que chegou em 3º e 4º depois de um 2010 decepcionante. A vitória ano passado em cima do erro da Rizi em Petit Le Mans não livrou grande parte da equipe de uma demissão e abriu as portas para uma nova mentalidade na equipe. Os outros brasileiros na prova Bruno Junqueira e Cristiano da Matta que estavam com o Jaguar XKR mal competiram, pois o carro apresentou problemas logo nas primeiras voltas. Uma pena, a dupla é boa e pode surpreender quando o carro for mais confiável. Outros que mal deram o ar da graça foram o #050 o comentadíssimo Panoz Abruzzi que deu apenas 19 voltas e o Lamborghini Gallardo da West Racing que deu pífias 10 voltas. Pior foi o Aston Martin Vantagem que mal fez a temperatura do motor esquentar completando apenas cinco voltas.
 

Ferrari “antiga” da Krohn racing faz boa estreia correndo sem a sobra da Rizzi

Na classe GT AM o vencedor foi a Ferrari F340 da Krohn Racing terminando em 19º no geral. A equipe que até o ano passado tinha uma parceria com a Rizzi Competizione fez bonito chegando 50 voltas a frente do segundo colocado na classe. Na GTC o vencedor foi o Porsche #054 de Pappas/Faulkner e Bleekemole da equipe Black Swan Racing
 

Mesmo sem ver nada por alguns momentos Porsche #54 chegou ao final em primeiro

E assim o mundo do endurance dá seu ponta pé incial para um ano que promete. As próximas corridas serão ALMS etapa de Long Beach no dia 15 de Abril, a LMS abre seus trabalhos em Paul Ricard entre os dias 1 e 3 de Abril e a ILMC tem sua segunda rodada em SPA no dia 7 de Maio. Se pudermos tirar um ensinamento sobre Sebring é que muitas vezes o que pode se julgar ultrapassado pode surpreender. Pense nisso!
 
 
O bom e o ruim da corrida (clique nas imagens para ampliar)

Audi – Poderia ter chego ao pódio se não fosse os problemas que teve com os dois carros. Não tinha um carro vencedor em condições normais, mas podia surpreender na estratégia. Que venha o R18

Highcroft – O vencedor moral? talvez. A equipe que quase fechou as portas apostou no conhecimento e soube contornar a crise. Também provou que a igualdade de combustíveis é possível.

 

Ferrari F458 – A melhor 458 ficou em 9º na sua classe a 20 voltas do líder BMW. Se esperou mais de um carro tão badalado. Falta testar e muito.

 

Ferrari F430 – Foi superior em vários momentos. Teria conquistado o pódio se Fisichella não fosse…Fisichella. Ainda tem muito gás para queimar provando que nem sempre novidade é melhor.

 

Panoz Abruzzi – O espírito de Le Mans fez suas primeiras “voltas” oficiais sem fazer absolutamente nada. Nome não ganha corrida muito menos nome famoso. Carro precisa de um investimento maciço para pelo menos acabar uma corrida.

 

Peugeot 908 – O novo modelo provou ser rápido teria ganho a corrida se não fosse a afobação de seus pilotos e pequenos erros nos boxes. Resta saber se aguenta Le Mans.

 

Rebellion Racing – O resultado ficou entre 8 e 80. Tem suporte por parte da Toyota. Precisa apenas rodar mais para desenvolver o carro.

 

Jaguar – O modelo que serviu de pace car da corrida andou mais do que os dois modelos que deveriam ter corrido. Uma pena pois tanto Bruno Junqueira quando Cristiano da Matta tem potencial… Vamos ver no decorrer do campeonato.

 

OAK Racing – Surpreendeu no começo do ano anunciando 4 carros nos campeonatos da ACO. Pena que quantidade e qualidade nem sempre andam juntas. Equipe boa que precisa se focar. Ou é P1 ou é P2

Lola Coupe – Não fez nada durante toda a prova mas conseguiu o que nenhum outro carro fez. Ser bonito.

 

Speed – Mesmo não sendo uma emissora “oficial” vai transmitir toda a ILMC e 24 horas de Le Mans. Foram mais de 10 horas transmitindo Sebring sempre com irreverencia de Sérgio Lago e Roberto Figueroa. Pena que o exemplo não é seguido por outras redes em suas transmissões.

 

 

 

 

 

 

2 pensou em “12 horas de Sebring: Resultados e pensamentos de uma corrida aonde os antigos superaram os novos protagonistas.

  1. Maravilhosa a sua cobertura de uma das mais saboprosas corridas de endurance. Por isso que passo por aqui pelo menos uma vez ao dia.
    Muitas fotos e um texto inteligente. Parabéns. Esse ano a endurance pelo mundo promete muita competição. Abs.

  2. O R18 surpreendeu com um visual bastante diferente de um P1 “padrão” em Le Mans, além também dos farois que, a noite, deve ser um espetaculo a parte.
    o 908, só com a sua pintura, torna-se bonito!
    Falando em Lola, não pode-se deixar de citar o lindíssimo Lola da Rebellion.
    Realmente, quanto a visual, o mundo de Le Mans, nesse ano, está dando um show!

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