VAVEL entrevista Christian Fittipaldi, bicampeão do WeatherTech SportsCar Championship
19 de fevereiro de 2017O nome Fittipaldi, virou sinônimo de velocidade nos anos 70. Wilson e Emerson, foram os desbravadores quando o assunto é automobilismo. Tiveram uma importante participação na Fórmula 1 nos anos 70, e começo dos 80. Os dois irmãos, fundaram a mítica equipe Copersucar Fittipaldi. Antes Emerson foi bicampeão pela Lotus e McLaren.
Foi neste meio que nasceu Christian. Seguindo os passos do pai Wilson e do tio Emerson, começou nas categorias de base, chegando a Fórmula 1 em 1991. Competindo pela Minardi, e Arrows, foram 43 provas disputadas.
Ao final de 1994, se mudou para os Estados Unidos. Competiu na NASCAR, Indy. Foi no endurance que Christian se sentiu em casa. Venceu as 24 horas de Daytona em 2004, com um protótipo Doran. Após a união da American Le Mans Series com a Grand-Am em 2014, no que resultou na United SportsCar Championship, o brasileiro voltou ao primeiro lugar no tradicional circuito americano.
Além do triunfo em Daytona, Christian venceu as 12 horas de Sebring em 2015. Ao lado do português João Barbosa, foi campeão da IMSA em 2014 e 2015. Também conquistou o NAEC (Tequila Patron Endurance Cup) minicampeonato que engloba as provas longas da IMSA (24 horas de Daytona, 12 horas de Sebring, 6 horas de Watkins Glen e Petit Le Mans) três vezes (2014, 2015 e 2016). Todas as vitórias e títulos foram conquistadas com o Corvette DP da equipe Action Express.
Em entrevista a VAVEL Brasil, Christian fala da final polêmica das 24 horas de Daytona deste ano, BoP e claro, as 24 horas de Le Mans.
VAVEL: Christian, a edição 2017, das 24 horas de Daytona, terminou de forma polêmica. Ricky Taylor da Wayne Taylor Racing, forçou em cima do seu companheiro Filipe Albuquerque, custando uma possível vitória. Em seu entendimento, Ricky se precipitou? Foi um lance de corrida? Faltou uma punição por parte da IMSA?
Christian Fittipaldi: O fato do Filipe ter aberto um pouquinho naquele momento foi para fazer melhor a tomada da curva, ele não deixou a ‘porta aberta’, mas isso gerou uma oportunidade para o Ricky, que na minha opinião foi muito agressivo e acabou rodando o nosso carro. Se foi uma manobra limpa? Não, não foi, mas foi do jeito que foi. Rodamos e levamos a pior. Quanto à penalização, acredito que o IMSA até pensou sobre isso, mas a história por trás do carro 10 era muito boa para eles penalizarem a cinco minutos do final da prova. Claro que as decisões não são tomadas baseadas em fatos como estes, mas acho que o fato do Gordon estar no carro, deles terem chegado em segundo lugar nas três últimas 24 Horas de Daytona, por ser a última corrida do Angelelli. Então isso tudo jogou a favor do carro 10. Se estivéssemos numa situação parecida, talvez isso também tivesse ‘jogado’ a nosso favor. Mas, com certeza, não foi uma ultrapassagem limpa na pista.
VAVEL: Você competiu tanto na Europa, quanto nos EUA. Uma das principais reclamações por parte dos fãs, são as intermináveis bandeiras amarelas, procedimento que existe no velho continente, mas de uma forma mais dinâmica. Esses longos períodos atrás do Safety Car, são realmente necessários?
Christian Fittipaldi: Na verdade, a bandeira amarela existe por causa das corridas do automobilismo norte-americano. A Europa e, eu mesmo, aprendi isso com os Estados Unidos, porque lá você só tem a bandeira amarela local. Mas eu enxergo a bandeira amarela de forma oposta. Ela é acionada por motivo de segurança e, como piloto, tem dia que você gosta, porque ela te ajuda, e tem dia que não gosta. Em Daytona mesmo, teve uma bandeira amarela a 15 minutos do final, quando estávamos com oito segundos de vantagem. O carro 10 estava rápido, mas não teria conseguido nos alcançar se não houvesse a bandeira. Então, ela não ‘jogou a nosso favor’. Mas se eu estivesse em segundo lugar, estaria rezando para que ela acontecesse.
VAVEL: Daytona também viu uma nova geração de protótipos, os DPi, em 2016, as equipes, estavam preocupadas com custos. Após a primeira prova, é seguro afirmar que a troca por um modelo mais moderno, e seguro valeu a pena? Como foi a adaptação?
Christian Fittipaldi: Financeiramente não valeu a pena, vai valer no final do ano, na temporada que vem, mas foi um investimento muito grande. Além do carro, você também tem de lembrar que as equipes também ‘perderam’ todas as peças reservas que elas tinham, tiveram de jogar no lixo, comprar tudo novo e isso também tem um custo muito alto. Mas é algo que vai valer a pena ao longo do tempo. A primeira corrida foi um show, todo mundo ficou emocionado com os carros, então era uma mudança que tinha de ser feita e que vai refletir muito no futuro da categoria.
VAVEL: Você é bicampeã da IMSA em 2014-2015 e vice em 2016. É um dos nossos melhores pilotos em atividade. Sua primeira participação em Le Mans, foi a bordo de um Saleen em 2006. Voltou em 2007 e 2008 com Aston Martin. Quando teremos um retorno? Faltou uma equipe competitiva? A própria Action Express, teria no futuro, interesse em participar da prova?
Christian Fittipaldi: A Action Express até tem interesse, mas só se tivesse a oportunidade de ser campeã no geral. No meu caso, se houvesse uma oportunidade numa equipe competitiva, eu com certeza voltaria.
VAVEL: Um dos maiores desafios que um chefe de equipe tem, é equalizar seus pilotos. Estilo de pilotagem, conhecimento do carro e bom relacionamento. Você tem uma ótima parceria com João Barbosa, estão competindo juntos desde 2011. Esta estabilidade dada pela equipe, é um dos motivos para tantas vitórias e títulos?
Christian Fittipaldi: Com certeza. Acredito que a chave do nosso sucesso se deve a essa continuidade. Quando eu renovei o meu contrato de 2013 para 2014 com a equipe, sabia que não éramos a melhor equipe da categoria. Hoje em dia, se eu pudesse escolher qualquer equipe para defender, eu nunca pensaria em sair de onde estou. Somos a melhor equipe e a gente ralou muito transformar a equipe no que ela é, todo mundo trabalhou e se esforçou muito. Foi muita dedicação e trabalho e isso fez a diferença.
VAVEL: Se pudesse voltar a competir em uma das categorias que já participou, para qual retornaria?
Christian Fittipaldi: Fórmula Indy nos mistos e Fórmula 1.
VAVEL: Assim como você, outros pilotos brasileiros, descobriram os encantos do endurance. O que falta para as novas gerações, entenderam que podem ter carreiras vencedoras, sem tratar outras categorias além da F1 como menos importantes?
Christian Fittipaldi: Falta eles deixarem de ser contaminados pela ‘febre’ da Fórmula 1. Desde que você nasce, no Brasil, com 3 ou 4 anos, você assiste corridas ao lado do seu pai, ouvindo um narrador cativante como o Galvão Bueno, e isso te condiciona de que só existe a Fórmula 1 na vida. E eu mesmo achava isso. Mas com o tempo você percebe que existe mais vida em outras categorias. Claro que ela é o topo do automobilismo, mas se você não chegar lá, você pode se profissionalizar, guiar e se divertir em muitas outras categorias.
VAVEL: Além dos testes em pistas. Você utiliza simuladores?
Christian Fittipaldi: Não. Fui criado em outra época e, sinceramente, acho que os simuladores que realmente fazem a diferença estão na Europa. E acredito nos simuladores até um certo ponto. Uma coisa que ele não te passa é o que você sente nas costas, a vibração, não passa a mesma sensação. É muito parecido, mas não é a mesma coisa.
VAVEL: A próxima etapa do Weathertech, serão as 12 horas de Sebring. O traçado é conhecido por ter um asfalto misturado com concreto e muitas imperfeições. Em relação as outras etapas, os carros passam por algum tipo de reforço estrutural?
Christian Fittipaldi: Não. O carro não tem nenhuma alteração com relação ao carro que corremos em Daytona, é exatamente o mesmo. Talvez, se em alguma curva o fundo estiver raspando um pouco mais, podemos colocar algum reforço, mas nada grande, só detalhes mesmo.
VAVEL: Uma das discussões é o BoP (balanço de performance). Até que ponto ele é válido? Ele não acaba nivelando a equipe que investe menos?
Christian Fittipaldi: Como piloto participante do IMSA, eu diria que ele é importante para dar chance a todas as equipes e pilotos. Mas como competidor eu acho que não tem o menor contrassenso. Como diz o ditado: Quem pode mais, chora menos. Eu mesmo já estive dos dois lados da moeda e, mesmo assim, acho o BOP uma loucura para os competidores. Acho importante para os donos de equipes, atrai montadoras. Mas os carros nunca serão exatamente iguais, dentro de cada carro há muitas variáveis.