Resenha: Menina Má de William March

7 de janeiro de 2017 0 Por Fernando Rhenius

(Foto: Fernando Rhenius)

Até que ponto o mal pode influenciar o comportamento e a vida de uma pessoa. Ela teria a capacidade de perceber isso, convivendo como se fosse um sentimento bom ou normal? Essa é a premissa de Menina Má, livro do americano William March, que foi lançado no Brasil pela DarkSide Books.

O livro ganhou vida em 1954, teve uma grande repercussão na época, e se tornou inspiração para uma das vertentes que mais faz sucesso, seja na literatura ou no cinema, a criança possuída por algo maligno, o que foge das convenções que se esperam de um anjinho.

Se hoje crianças com pensamentos psicóticos são comuns, a época que o livro foi lançado, idealizar algo assim, estava mais para um disparate. Para entendermos toda a atmosfera da obra, precisamos descobrir, quem foi William March.

A menina fitou por um longo tempo com seus olhos calculistas e astutos, algo que não mais se esforçava para esconder da mãe, uma vez que ela já sabia de tanta coisa. “A medalha não pertence à sra. Daingle”, disse ela. “A sra. Daingle não a ganhou. É mais minha do que dela.” Página 129.

Com uma vida conturbada, com severos ataques de personalidade e uma homosexualidade reprimida, March teve várias profissões antes de se dedicar integralmente à carreira de escritor. Com um gosto um tanto peculiar para a época, muito pelos problemas que teve na infância (saiu de casa com 16 anos para nunca mais voltar), March, mal degustou o sucesso que Menina Má teve. Faleceu pouco depois do lançamento do livro em 1954.

A história

Tudo gira em torno de Rhonda Penmark, uma angelical criança. Admirada por todos, a pequena tem uma educação e postura exemplar. Não é birrenta, boa aluna e por muitas vezes, não aparenta ser de fato uma criança.  Sua mãe Christine, é rica, bonita e extremamente fraca de personalidade.

Sendo uma mulher que veio de uma família de posses, passava seus dias fazendo ameninadas, e cuidando da pequena filha. O comportamento pouco comum de Rhonda, sempre causou estranheza, mas acreditava ser algo da idade. Logo ela iria perceber que sua filha não era uma criança comum.

Misteriosamente, pessoas estavam morrendo e Rhonda sempre estava por perto. Com seu jeito educado e de sorriso fácil, extremamente dissimulado conseguia enganar a todos. Sua mãe, que lutava para aceitar o comportamento frio da filha, começou a desconfiar.

Vendo que não estava impressionando a mãe, a menina se levantou do sofá, andou sem pressa até Christine e ficou de pé diante dela. “Eu bati nele com o sapato”, disse ela calmamente. “Tive que bater nele, mãe. O que mais eu podia fazer?”. Página 169.

Rhonda é indiferente a sentimentos, não esboça emoções como as demais crianças. A única pessoa que acha este tipo de comportamento uma graça, é Monica Breedlove, vizinha dos Penmark. Sem sombra de dúvida Monica é a personagem mais chata e insuportável de toda história.

Rica, e com tempo de sobra, passa os dias cuidando e se metendo na vida dos outros. Curiosamente é a única pessoa que Rhonda não tem qualquer objetivo de matar. Enquanto a fofoqueira senhora, bajula a criança, tudo está bem. Sua segurança e frieza, contrasta com a personalidade fraca da mãe. A filha sabe perfeitamente manipular as pessoas ao seu redor.

Não espere banhos de sangue e corpos por todos os lados. Mesmo tendo uma personalidade dominante, e sendo o personagem principal, grande parte da história, mostra a aflição de Christine, ao descobrir e encarar a verdadeira índole da filha. A boa educação de Rhonda, pode fazer você desejar que mais crianças fosse assim nos dias de hoje, se não fosse por um pequeno detalhe…

Influências

A obra de William March, vem influenciando tanto filmes, quanto livros. Stephen King em O Cemitério, transforma o pequeno Gage em um assassino impiedoso. O filme que se baseou no livro mostra a mudança de fisionomia de Gage. Sem dúvida um dos pontos altos da obra. Até hoje, mesmo sendo considerado trash, é um dos mais citados quando o tema criança assassina está em debate.

Outra obra de King que também conta com crianças possuídas é “As crianças do milharal”. Conto presente no livro Sombras da Noite. A história que ganhou uma adaptação para o cinema com o sugestivo nome de “Colheita Maldita”, também tem anjinhos como máquinas de matar.

Obras mais recentes como “O chamado”, “Anabelle” e “A Órfã”, sintetizam isto. Em 1956, a primeira adaptação para o cinema. The Bad Seed, mesmo título do livro, teve como diretor Marvyn LeRoy. Patty McCormack, interpretou Rhonda Penmark. O filme recebeu quatro indicações para o Oscar, não ganhando nenhuma. Acabou recebendo o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante para Eileen Heckart, que interpretou Mrs. Daigle.

Conclusão

Mesmo sendo uma obra criada em 1954, em um mundo totalmente diferente, Menina Má, consegue prender a atenção do leitor. Crianças matando a esmo, não é uma novidade. Se hoje você tem medo de Samara, Anabelle, agradeça a William March e sua Rhonda.

E adição produzida pela DarkSide Books, prima pelo bom gosto. A capa com uma singela boneca, as cores fortes, escondem bem o verdadeiro conteúdo do livro. Você teria coragem de brincar com Rhonda?