Cinco autores nacionais que valem a leitura
25 de abril de 2021A dúvida é sempre a mesma. Todas as vezes que buscamos nossa próxima leitura, títulos e mais títulos estão em nossa mente. De imediato vamos atrás de best-sellers e títulos baseados em filmes e esquecemos de autores nacionais.
Os próprios sites e livrarias físicas, destacam os melhores e enfatizam frases de efeito em suas capas, muitas vezes do jornal americano The New York Times ou algum escritor famoso.
Porém, perdemos uma grande oportunidade de conhecer autores nacionais que nos proporcionam excelentes experiências literárias. Pensando nisso, o Jornalismo Bongasat separou cinco obras de escritores nacionais de vários estilos: terror, suspense, jornalismo e clássico. Todos os livros acompanham link de compra e informações bibliográficas.
A vida que ninguém vê – Eliane Brum
Editora: Arquipélago
Ano de lançamento: 2006
Páginas: 203
A jornalista Eliane Brum tem uma sensibilidade ímpar para descrever pessoas. Não os famosos, ex-BBBs ou celebridades instantâneas. Ela gosta do povo simples, pessoas normais que contam a história de suas vidas e refletem um Brasil desigual e esquecido.
Eliane consegue criar um universo rico em detalhes, confirmando que todos nós temos trajetórias de vida que renderiam uma boa história. Tem o caso de Adail, carregador de malas de um aeroporto e que nunca entrou em um avião. Ou Antônio, um homem humilde que teve de enterrar o filho, sem sequer ter sido batizado.
Todas as histórias foram tiradas de uma coluna que Eliane tinha no jornal Zero Hora, o que resultou neste livro que mostra como grande parte do brasileiro é negligenciado por ser humilde.
Cova 312 – Daniela Arbex
Editora: Intrinseca
Ano de lançamento: 2019 (nova edição)
Páginas: 336
Outro bom exemplo de um jornalismo que está morrendo a cada dia, o investigativo. Daniela Arbex é uma premiada jornalista que escreveu Holocausto Brasileiro, livro reportagem que conta as barbáries feitas nos antigos “hospícios” para tratamento de hanseníase.
Em Cova 312, Arbex, entra a fundo nos crimes praticados durante o regime militar. Perseguições, censura e pessoas desaparecidas. A jornalista revela toda uma teia de mentiras e desinformação que culminaram no descobrimento de quem estava enterrado na cova 312. A narrativa é forte, visceral e revela como foram os anos de “chumbo” para quem não seguia a cartilha dos militares na época.
VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue – Cesar Bravo
Editora: Darkside Books
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 288
Do terror real para o ficcional, ou não! Cesar Bravo é um dos autores nacionais da nova safra que escreve terror no Brasil. Não é aquele terror psicológico, comum nas obras atuais. Mesmo sendo um livro de 2019, Bravo conseguiu criar um universo que se desenvolveu nos anos 80. Tempo dos vídeos-cassetes, correr livre pelas ruas e do terror palpável.
Você sabia quem era o monstro, sabia onde se escondia e até batia um papo com ele. O livro possui 18 contos, que se passam na sinistra Três Rios, cidade fictícia do interior paulista. Dizem que o mal se alimenta do sangue daquele povo, e de quem tenta pensar de modo diferente dos donos da cidade.
O legal de VHS, segundo livro impresso do escrito (o primeiro é Ultra Carnem), é que os contos estão interligados. O que acontece com um personagem em uma história, é revelada na outra. Podemos considerar Três Rio nos mesmos moldes de Castle Rock, cidade presente em várias obras de Stephen King onde muita coisa acontece sem uma explicação lógica. Preparado para uma viagem?
Jantar Secreto – Raphael Montes
Editora: Cia das Letras
Ano de lançamento: 2016
Páginas: 368
Do terror paulista para o carioca. Jantar Secreto é o quarto livro do escritor Raphael Montes, que também é roteirista e produtor. A história se passa na capital fluminense e envolve um grupo de estudantes universitários que moram em um apartamento e vêm de diversas partes do país. Em um caldeirão de costumes e manias, a falta de grana impera entre todos, e uma ideia um tanto quanto ortodoxa e que pode render uma boa grana, começa a povoar a mente de todos.
O legal na escrita de Montes é que ela te prende de uma forma, que quando menos você espera, o livro acaba com um final tão surpreendente que demora algumas horas ou dias para você conseguir digerir tudo. Outro ponto positivo são as características de cada personagem.
Tem o cético, que acha que o plano de fornecer jantares um tanto quanto peculiares é arriscado, o que topa tudo, o nerd de computador que faz tudo e ao mesmo tempo nada e aquele que não concorda, mas vai no embalo do grupo. Jantar Secreto já foi traduzido para diversos idiomas avalizando a qualidade da escrita de Montes. Leitura rápida, envolvente e que te deixa curioso. Que jantar é esse? O grupo vai conseguir se manter unido até o fim?
Os Sertões – Euclides da Cunha
Editora: Martin Claret
Ano de lançamento: 2017 (desta editora)
Páginas: 664
A lista se encerra com um clássico. Escrito por Euclides da Cunha, em 1902. Os Sertões narra a epopeia do então correspondente do jornal O Estado de São Paulo na cobertura da Guerra de Canudos (1896-1897) no quase inexplorado interior do Bahia, pelo menos para os moradores das regiões sul e sudeste.
A história mistura elementos da cobertura jornalística da guerra, com o dia a dia do povo local, com uma riqueza de detalhes inéditos para a época, e que faz falta na maioria dos textos jornalísticos atuais. São descritos romances em meio ao conflito.
Muitos poderão achar a escrita arrastada e até arcaica, mas era o jeito de escrever na época. A edição da editora Martin Claret, conta com apresentação de Jean Pierre Chauvin, professor de cultura brasileira da USP e Adelino Brandão, professor e jornalista. O livro é repleto de notas de rodapé, e um mapa da área do conflito. Mais que um livro, é um documento histórico que mostra um Brasil tão desigual como nos dias atuais.