Agatha Christie mostra o seu lado sombrio em “Noite sem fim”
31 de janeiro de 2023Quando nos acostumamos com o estilo literário de um autor, reconhecemos seus textos mesmo em livros não lidos. Agora, quando você sabe que o livro é de um autor que se aventura por outros estilos, o risco de nos decepcionarmos é o mesmo de uma leitura muito boa.
Nesse sentido, esqueça do de Hércules Poirot e a simpática e para muitos fuxiqueira Miss. Marple. Eles não são os elementos principais de “Noite sem Fim” (Endless Night), livro da escritora Agatha Christie, publicado pela primeira vez em 1967. Saindo muito da receita bem sucedida de um detetive investigando um crime com diversos suspeitos, Agatha entra no mundo obscuro do terror.
Mesmo depois de 56 anos do seu lançamento, a receita de um livro onde o protagonista narra a história e faz uma autocrítica dos seus atos, prende o leitor. Por ser um livro com 220 páginas a leitura flui. Mesmo sendo um livro com o viés mais sobrenatural, hábitos presentes nas culturas inglesa e brasileira provocam no leitor uma torcida por Michael e Ellie.
Agatha Christie e seus casais problemáticos
O casal é o ponto central da história. Ellie é rica, mas não gosta da alcunha. Apesar de todas as benesses que o dinheiro pode proporcionar, a moça sofre de algo comum para a maioria das pessoas que nasceram em famílias numerosas ou tradicionais, o controle.
Mesmo sendo herdeira de milhões, a moça não pode dar um passo sem a aprovação da sogra e dos tios e advogados. Obviamente, uma hora a conta chega e a rebeldia aflora. Tudo com muita pompa e circunstância.
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Na outra ponta da escala social, está Michael. Ele não nasceu rico, e precisou suar para conquistar algo na vida, nem sempre da forma mais honesta possível. Mesmo assim, ele tenta. Essa diferença de mundos é perceptível nos primeiros capítulos. Muitas situações causam revolta ao leitor, pois o nível de intromissão dos parentes de Ellie e da mãe de Michael são maçantes e podem causar certa revolta. Sabe aqueles almoços em família que todos palpitam? Pois é.
Para piorar, Greta, uma espécie de governanta de Ellie, atrapalha mais do que ajuda, e bota em cheque o tórrido romance do casal.
Mais do mesmo?
Quando começa o terror? Na parte final. Mesmo sendo um livro escrito nos anos 60, o modo como Agatha retrata não deixa o leitor com medo de dormir. Mas, com uma pulga atrás da orelha.
Não existem monstros, coisas se movendo ou portais se abrindo às 03 da manhã. O pior terror que pode existir é aquele criado por nós mesmos. Nessa cabeça é extremamente fértil em criar fantasmas, que sempre irão nos assombrar. E o que resta? O mal.
A leitura é rápida e o leitor espera pelo “terror”, que pode acontecer na próxima página. Principalmente com as intrigas e a invasão dos parentes ricos de Ellie. Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência.
Quem leu o conto “1922”, de Stephen King, terá uma ideia de como as coisas andam. Acredite, o final da história e como tudo se encaixa, te surpreenderão muito.