A nossa solidão de cada dia

29 de maio de 2016 1 Por Fernando Rhenius

O que é ser sozinho? A algum tempo um homem que morava em uma caverna na Serra do Tabuleiro na grande Florianópolis teve que sair do local por conta de uma decisão judicial. Ele tinha tudo ali. Um teto, podia viver comendo frutas e pescando. A água vinha da chuva e até poderia ter alguma criação ou plantação. Outro fato que deixa a história mais legal é o gosto de Vilmar pela leitura, já que ganha livros de pessoas que o consideram um protetor do parque florestal.

Se é uma opção de Vilmar não se sabe. Ele poderia estar sozinho no mundo, largado tudo e todos.  Meu avô sempre me falou que toda tampa tem sua panela, mas isso não é garantia que a solidão vá embora. Muitas vezes ela só aumenta, seja pela falta de diálogo ou falta de vontade para mudanças.

Hoje tudo é mais fácil. Temos muitas vezes mais amigos virtuais que reais, mas isso não significa que seja algo ruim ou impessoal. Podemos ter relações com as pessoas de tudo mundo, muitas vezes com um sucesso maior do que o seu vizinho ou amigo da faculdade, ou o que é mais triste, com a família.

Mas porquê a solidão é maior em pessoas que tecnicamente tem pai, mãe e vivem em uma família que deveria suprir tal sentimento? A falta de conversa, de interação e principalmente o egoismo. Hoje ninguém mais se importa com o próximo. Se mata, se mente por coisas banais, você acha realmente que alguém vai se importar se o companheiro, amigo perdeu o emprego, terminou o casamento ou simplesmente está em um mal dia?

Não. Se o fato não atingir quem deveria ser o primeiro a ajudar, está tudo certo. A vida é uma troca, não só material. Mas deveria ser uma troca sem segundas intenções, sem entrelinhas. A importância com o próximo devia ser maior, sem rodeios.

Estava eu esses dias esperando o ônibus depois de mais um dia na faculdade. Ao meu lado tinha um jovem, aparentava uns 20 e poucos anos e uma senhora. Ele comentava que morava sozinho. Assim como muitos de nós vivia para o trabalho, tendo apenas o final de semana para se divertir.

A riqueza não era algo perceptível. Acordava cedo, dormia tarde e mesmo assim encontrava forças para fazer sua graduação. Não ouvi qual curso estava matriculado, mas já tinha o meu respeito. Enquanto muitos estão por ai ocupando seu tempo com o que não presta, ele estava lá, tentando ser alguém melhor. Não tinha um apoio de pai, mãe ou namorada. Era sozinho e não usou isso para se vitimizar.

Por dois momentos seus olhos brilharam. Quando um casal de meia idade passou de mãos dadas. Aparentavam estar juntos a muitos anos e quando uma mulher com seu pequeno e inquieto filho se sentou ao seu lado esperando a condução. Ele provavelmente sonha em ter um filho, e uma companheira e viver seus últimos anos ao lado de alguém fiel e que batalhe para fazer a coisa acontecer.

Por outro lado a solidão mesmo tendo alguém é maior a cada dia. Por mais que necessitamos de momentos com a gente mesmo, mais hora, menos hora um obrigado, um bom dia ou um abraço se faz necessário. Talvez essa falta de importância com o próximo faz cada vez mais as pessoas adotarem animais de estimação. Não que seja ruim, ou condenável (adorar um animal é algo extremamente louvável), optar por um cachorro por exemplo do que por um “humano”. A fidelidade de um cachorro, gato ou passarinho é real, a do próximo e sempre discutível.

Segundo o filósofo alemão Martin Heidegger que viveu entre os anos de 1889 e 1976 a solidão é algo natural do ser humano. Para ele a partir do momento que nascemos e iniciamos a estrada da vida, estamos sozinhos no mundo, e o segredo para controlar isso é administrar a solidão.

Podemos nos sentir amados ou abandonados. Esta linha tênue que define muitas vezes nossos atos. Quantas pessoas já deram cabo da própria vida por acreditar que não eram importantes para ninguém? Que mesmo rodeados não eram devidamente queridos e aceitos? Seja por convenções bestas ou por terem opiniões divergente da maioria?

Não vale muitas vezes mendigar atenção, carinho. Nessas horas os falsos amigos, os oportunistas se apoderam do nosso corpo no melhor estilo The Walking Dead. E como estamos carentes vendemos a alma, por migalhas, acabamos nos dedicando, nos entregando por prazeres momentâneos.

E o que fazer então? Adotar um cachorro? Estudar? Ocupar a mente? Sim! Pensar na solidão não vai fazer ela desaparecer, como dizem “cabeça vazia, oficina do diabo”.