A menina do ponto
24 de dezembro de 2015Todos os dias lá estava ela, meio loira, mais ou menos 1,60 sentada aguardando o ônibus pontualmente as 6:20 da manhã. Podia chover, fazer sol, fatidicamente todos os dias ela estava lá, com exceção do Domingo.
Não por que eu não a via, mas por que era meu dia de descanso. Seu nome descobri depois de muito tempo, Eduarda. Menina educada, sempre trajada com sua bolsa, celular e um livro. Nunca me prendi a descobrir qual o título, se era um romance, ou aqueles de colorir.
Demorou para eu tomar coragem e puxar um pequeno diálogo com ela. “Bom dia! ” Falei tímido, ela olhou para cima, pois estava sentada e me respondeu com um ar contido, se espreguiçando, “Bom dia.”
Este foi o único diálogo que tivemos por vários dias, como sou tímido e ela idem nossos monólogos foram ganhando forma, “Que tempo chuvoso né? ”, “O ônibus está atrasado”. Minha imaginação fervilhava em perguntas e dúvidas. “Será que ela tem namorado? ”, “Será que ela gosta de alguém? De mim? ”.
Precisava fazer alguma coisa, não pegávamos o mesmo ônibus e dependendo do dia tínhamos pouco tempo para conversarmos. Era sexta e como não iria trabalhar sábado, ficaria dois dias sem ver minha menina.
Bolei um plano. Precisava ter coragem e puxar papo, ser direto e conseguir convida lá para um lanche, cinema ou qualquer coisa que nos tirasse daquele ponto frio e sujo.
Chegou o dia. Botei minha melhor roupa, perfume e uma decisão. De hoje não passaria. Fui para o ponto mais cedo, ela já estava lá. Quando me viu se ajeitou no banco, arrumou o cabelo e cruzou as pernas, parecia receptiva.
Me recebeu com um sorriso. Começamos a conversar e ela estava feliz, sorria para tudo o que eu falava. Sentei bem perto dela, mãos trémulas, elogiei seu cabelo, liso. Ela logo mexeu nele e reclamou que não tinha tido tempo de arrumar como deveria.
Falei que não precisava, pois já tinha um cabelo, um rosto bonito. Ela riu envergonhada. Tinha chegado a hora. Perguntei se ela gostaria de sair comigo, um lanche, um pastel ou um cinema. Ela prontamente se levantou e falou, “meu ônibus está vindo”. Não disse sim nem não.
Eu fiquei em pé, estático sem saber o que falar. Seria um programa perfeito, ou um fora perfeito, se eu não estivesse do outro lado da rua, tomando coragem para chegar e lhe dar um bom dia.