Resenha: Jogo Perigoso de Stephen King
13 de maio de 2017Qual foi a última vez que você realmente sentiu medo? Foi quando acordou a noite e distraidamente olhou pela janela, e viu aquela pessoa lhe encarando as três da madrugada? Teve que passar por um local alto, mesmo morrendo de medo de altura? São inúmeras as situações que nos fazem temer pela nossa própria vida.
É mais ou menos isso que Jessie enfrentou em Jogo Perigo, livro escrito por Stephen King em 1991 e publicado no Brasil pela editora Suma de Letras, tem como título original de Gerald´s Game. Mas o livro obviamente vai muito além do medo, do simples medo característico das obras de King. Sexo, rotina, abusos infantis são retratados na obra.
O próprio King deu uma das melhores explicações sobre o medo no prefácio de Sombras da Noite: “A coisa debaixo da minha cama esperando para agarrar meu tornozelo não é real. Sei disso, e também sei que se tomar cuidado e ficar sempre com as pernas embaixo da coberta, ela jamais vai conseguir agarrar meu tornozelo”.
Casada com o advogado Gerald o relacionamento já tinha caído no marasmo havia muito tempo. Jessie acabou sucumbindo as investidas do marido em apimentar a relação com jogos sexuais. Para isso o uso de algemas começou a ser recorrente durante os momentos íntimos do casal. Como toda novidade Jessie acabou gostando e incentivando o marido em seus desejos, com a triste ilusão de que tais brincadeiras poderiam salvar um relacionamento que mesmo estável, não duraria muito mais tempo.
Como toda novidade mal administrada, as práticas de BDSM acabaram atrapalhando mais do que ajudando, Gerald era um bom homem, mas não era de ouvir respostas e indagações negativas durante suas brincadeiras, ou em qualquer situação.
Durante um dos jogos, tudo muda após Gerald não ouvir o apelo da mulher para que retirasse as algemas. Em um momento intempestivo, Jessie acaba golpeando o marido que morre literalmente a seus pés. Presa pelos braços, seminua em uma casa isolada, todos os seus medos e temores mas íntimos começaram a aflorar por meio de vozes que dependendo da situação davam dicas, cobravam e criticavam seus atos pregressos.
É a partir deste ponto que todas as ações de Jessie são questionadas por ela mesmo. Situações do seu passado que passam por um complicado relacionamento com a mãe até o abuso cometido pelo pai, explicam muito da sua personalidade e como isso vai influenciar suas tentativas de escapar das algemas e quem sabe sair com vida.
King conseguiu construir uma boa narrativa. Todas as ações para que Jessie escape são descritas de forma bem visual. Acabamos torcendo por cada centímetro de avanços em suas tentativas. Mesmo que elas acabem por não surtirem efeito realmente prático. As “vozes” também merecem destaque. Todos temos as tais “ajudas” da nossa mente nas mais diversas situações. Na história as “conselheiras” de Jessie acabam ajudando sua “dona” a traçar a melhor maneira de sair da situação em que se meteu, e também ajudam a entender fatos do passado envolvendo a família. Se tirarmos todo o terror que o livro tem, as cenas de sangue e até a parte sobrenatural, as situações enfrentadas pela protagonista quando criança são mais comuns do que se imagina, o que acabou moldando sua personalidade.
O final do livro é bem diferente do que o leitor espera. Não desagrada, mas pode desapontar quem espera algo mais racional. Existem monstros, mas não os monstros comumente encontrados em outras obras de King. Nesta o autor deixa bem claro que o verdadeiro monstro, está muito mais perto do que se pode imaginar. Esqueça os armários, camas ou bueiros. O verdadeiro mostro está dentro de nós.
Jogo Perigoso e Louca Obsessão
No vasto portfólio do autor, encontramos outro exemplo dos perigos de ficar preso em uma cama contra sua vontade. Misery. Escrito em 1987 narra a história do escritor Paul Sheldon, que acaba sofrendo um acidente e para sua felicidade, pelo menos no início, é resgatado pela enfermeira Annie Wilkes.
O que Paul não desconfiava, era que a solícita mulher de proporções avantajadas, nutria uma paixão por Misery, personagem de maior sucesso do escritor. Com uma personalidade forte, Annie ao mesmo tempo que cuidada do seu querido ídolo, não aceitava os rumos que Misery estava enfrentando.
Assim como Paul, Jessie enfrenta o medo de formas completamente diferentes. Paul sabe realmente o que bate sua porta e senta ao seu lado na cama. Jessie não sabe quem ronda seu pequeno cubículo. Acaba potencializando demais sombras, ruídos e dando corda para suas vozes em um intenso ajuste de contas com seu passado. Os dois sofrem, encarando a morte de maneiras diferentes.
Adaptações para o cinema
Misery virou filme em 1990. No Brasil recebeu o nome de Louca Obsessão estreando em 1992. Kathy Bates interpretou Annie Wilkes, enquanto James Caan viveu Paul Sheldon. O filme é considerado um dos clássicos do terror rendendo a Kathy Oscar de melhor atriz, Globo de Ouro nas categorias de melhor atriz e filme dramático. Também recebeu o prêmio Bram Stoker.
Já Jogo Perigoso foi produzido pela Netflix. Carla Gugimo (Uma noite no Museu) e Bruce Greenwood (Amor sem Fim e Eu, Robô) interpretam Jessie e Gerald respectivamente. A direção está a cargo de Mike Flanagan que comandou O Espelho (2013) e Hush – A Morte Ouve (2016). O roteiro está sob a batuta de Jeff Howard.
“Gerald’s Game foi meu projeto dos sonhos por quase 20 anos”, comentou Flanagan. “Como um fã de longa data de Stephen King, é uma honra poder trabalhar com esse material incrível. Eu estou eternamente agradecido aos meus parceiros de longa data Trevor Macy e aos amigos da Netflix, por fazer esse sonho virar realidade. Essa é uma das razões pelas quais eu quis dirigir filmes”. Disse em entrevista ao site DeadLine.
Ficha técnica
Jogo Perigoso
Título original: GERALD´S GAME
Tradução: Lia Wyler
Capa: Rodrigo Rodrigues
Páginas: 336
Formato: 16.00 x 23.00 cm
Peso: 0.517 kg
Acabamento: Brochura
Lançamento: 23/08/2013
ISBN: 9788581050447
Selo: Suma de Letras
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Misery – Louca Obsessão
Título original: MISERY
Capa: Elton Mesquita
Páginas: 328
Formato: 16.00 x 23.00 cm
Peso: 0.511 kg
Acabamento: Brochura
Lançamento: 22/04/2014
ISBN: 9788581052144
Selo: Suma de Letras
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Eu adorei o paralelo que você traçou, Fernando. São duas perspectivas de dois prisioneiros que só querem viver…
Apesar de Jogo Perigoso não ser meu livro mais amado do King, esse conteúdo psicológico me interessou muito. As memórias do acontecido há anos com seu pai são tão vivas que deram tom à sua história atual.
Obrigada por me participar. Adorei!!
[…] Confira a resenha de Jogo Perigoso […]
Assisti o filme recentemente e fiquei bem curiosa quanto ao livro. Amei a sua resenha e fiquei ainda mais ansiosa para ler o livro.
Parece que ele é mais pesado que o filme…
Abs ^^
[…] dos problemas. Seu erro? Ser curiosa demais. O clima de cárcere se assemelha muito com Jogo Perigoso, publicado em 1992 e adaptado em 2017 […]