O dedo da discórdia

24 de dezembro de 2015 2 Por Fernando Rhenius

A imagem é comum em qualquer roda de amigos, seja em um bar ou em casa. Homem, na casa dos 40 anos é vítima de piadinhas e provocações quando fala que está perto de fazer o exame de próstata.

Muitas vezes o exame é encarado como algo ligado a homossexualidade, o que acaba inibindo a procura por parte dos homens. De acordo com dados do ministério da saúde cerca de 7% dos homens no país tem câncer de próstata. O correto diagnóstico chega a 80% de cura.

O que é a próstata?

Localizada entre a uretra e a bexiga, a próstata é uma glândula que produz e armazena parte do fluído seminal. O câncer é mais comum em homens acima dos 50 anos, e fatores como idade avançada, histórico familiar, fatores hormonais, hábitos alimentares (dieta rica em carne e pobre em verduras, vegetais e frutas), além do excesso de peso são fatores determinantes para pegar a doença. Os negros constituem um grupo de maior risco para desenvolver a doença.

Um diferencial negativo que muitas vezes é descoberto de forma tardia são os sintomas. Dor lombar, problemas de ereção, dor na bacia ou joelhos e sangramento pela uretra podem ser fortes indícios. Em sua maioria o câncer de próstata não apresenta sintomas no seu início. Ele só é notado quando está em estado avançado.

No Brasil é segundo tipo de câncer que mais afeta os homens perdendo para o de pele não-melanoma. O instituto Oncoguia as estimativas para o biênio 2014/2015 apontam que 68 mil homens terão o mal, superando o câncer de mama feminino (57.120) e colo de útero (15.590). Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) informam que a chance de cura quando diagnosticado em seus primeiros estágios é de 90%.

Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida se espalhando pelo corpo causando metástase e uma possível morte. Em outro cenário cresce de forma demasiadamente lenta, podendo levar 15 anos para atingir 1cm³. Muitas vezes não se manifestando e interferindo na saúde do homem. Em 2013 (dados do ministério da saúde), 13.772 morreram por conte deste mal.

Rede municipal de Itajaí dedica a causa

Em Itajaí o sistema público de saúde vem dedicando o mês de novembro com eventos de conscientização. Em todas as unidades de saúde do município, agentes de saúde organizam com grupos de trabalho nas salas de espera além de espaços em centros comunitários.  “A intenção é sensibilizar e conscientizar o público masculino quanto à importância da promoção e prevenção de sua saúde”, enfatiza a responsável pela área da Saúde do Homem na Secretaria de Saúde, Analu Rampelotti.

Além dos bairros, a secretaria de saúde firmou parceria com o Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen e a ONG Câncer com Alegria que realizou no sábado (14) durante a 29º edição da Marejada: Aventura pelos Mares do Mundo. A ação contou com panfletagem e conversas com profissionais de saúde.

Muito além da próstata

O novembro Azul não é dedicado somente a prevenção e combate ao câncer de próstata, mas sim a necessidade de conscientização do homem para um melhor cuidado com sua saúde. No programa também são explanados cuidados com o sistema cardiovascular, causas externas (acidentes de transito, violência), sedentarismo e tabagismo.

Assim o “Saúde do Homem” abrange a faixa etária entre 20 e 59 anos. Estatisticamente é o grupo aonde a maioria das mortes é caracterizada por causas externas (acidentes e violência). Em segundo aparecem as doenças do aparelho circulatório e na terceira posição o câncer de próstata.

No “Saúde do Idoso”, que cobre os homens a partir dos 60 anos. A incidência do câncer de próstata é maior, considerada uma patologia da terceira idade. “Neste grupo três quartos dos homens a partir dos 65 anos, o câncer tem o câncer. ” Ressalta Analu.

O urologista Alfredo Canalini o principal problema é o descaso do homem com sua saúde “A gente lamenta que alguns desses casos [câncer de próstata] poderiam ser resolvidos no momento em que a doença é inicial. Por isso, a gente enfatiza muito o aspecto do exame rotineiro do homem”.

A dor de quem viu a dor

Para Iramaia (71), a dor, solidão e revolta ainda povoam sua mente quando fala do marido Osni que perdeu a luta por um câncer que começou na próstata e se espalhou pelo sistema digestivo. Quando fala do marido com qual foi casada por 39 anos, Iramaia que guarda as alianças de casamento  em um pequena caixa em seu criado mudo tem um misto de revolta e saudade.

“Ele poderia estar com a gente ainda, mas foi teimoso durante toda a sua vida. Nunca se preocupou com a saúde”. A doença foi descoberta em estado avançado. Osni chegou a ser operado, mas com apenas um rim (perdera o esquerdo em um acidente de carro na adolescência). Debilitado e tendo que usar uma bolsa de colostomia por conta do mal que também afetou o se intestino os últimos meses foram penosos. “Tinha que dar banho, comida. Era triste ver um homem sempre disposto, deitado em uma cama apenas aguardando sua morte”. Fala, olhando para o chão tentando encontrar forças para seguir em frente.

O companheiro perdeu a vida em 2011. “O câncer não afeta somente a pessoa, todo mundo ao redor é afetado, pois a pessoa fica totalmente dependente. Para ajudar ele contraiu uma infecção hospitalar enquanto esteve no hospital Marieta (Konder Bornhausen em Itajaí),  o que só agravou o quadro.” Para a viúva se a falta “teimosia” e a morosidade para fazer a cirurgia que foi custeada pelo SUS agravou e muito algo que poderia ter sido curado. “Ele sempre brigava comigo quando eu mandava ele se cuidar. Do dia em que foi confirmado que tinha câncer até o dia da operação foram 6 meses, muito tempo para um mal que não espera.”